Em meio a tantos musicais de pegada adolescente, Pacto, do americano Stephen Dolginoff, desperta interesse imediato pela temática adulta e pela alta carga dramática. A versão brasileira, dirigida por Zé Henrique de Paula, leva a assinatura dos protagonistas, os atores Leandro Luna e André Loddi, e perturba o público com uma história densa, de teor psicológico e muito bem encenada.
+ “Agosto” e o teatro em sua essência.
Nathan Leopold (papel de Luna) e Richard Loeb (vivido por Loddi) são amigos desde a adolescência, e se reencontram assim que o segundo termina a faculdade. Apaixonado, Leopold sofre com a indiferença do outro e, manipulado, cede a todos os seus caprichos em troca de atenção.
Até então, os dois eram cúmplices em pequenos roubos, arrombamentos e incêndios. Uma proposta de Loeb, que acredita estar acima do bem e do mal, culmina no que seria tratado pela imprensa como “o crime do século”. Eles sequestram e matam um garoto de 14 anos na Chicago de 1924. As circunstâncias do assassinato nunca ficaram devidamente esclarecidas até que, depois de três décadas de prisão, Leopold entrega sua versão em troca da liberdade condicional.
+ Zeca Pagodinho lava a alma em musical.
Os atores abraçam com intensidade personagens bastante complexos, especialmente Luna, que explora múltiplos recursos em uma trabalhada composição. Acompanhados quase em tempo integral pelo pianista Andrei Presser, os intérpretes superam ciladas capazes de jogar a montagem no limite da cafonice. Muitas vezes, os diálogos entremeiam as canções, mas a dramaticidade não deixa que tal recurso se assemelhe ao dos velhos expoentes do gênero.
Grande responsável pela unidade, o diretor Zé Henrique de Paula encontra seu grande momento desde Urinal, o Musical, lançado em 2015. Direção musical de Guilherme Terra (80min). 14 anos. Estreou em 11/7/2018.
+ Teatro Porto Seguro. Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos. Quarta e quinta, 21h. R$ 40,00 a R$ 60,00. Até 30 de agosto.