Leonardo Miggiorin foi revelado na minissérie “Presença de Anita” (2001) e, na sequencia, ficou conhecido pelas novelas “Mulheres Apaixonadas” (2003), “Cobras e Lagartos” (2006) e “Insensato Coração” (2011). No teatro, o ator realizou trabalhos de destaque no drama “Equus” (2012) e no musical “Memórias de um Gigolô”, na temporada passada. Agora, aos 34 anos, Miggiorin estreia como diretor no drama “O Encontro das Águas”, de Sérgio Roveri, que entra em cartaz no sábado (9) na SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt. Patrícia Vilela e João Fenerich interpretam dois homens, que, no meio de uma madrugada, se encontram em uma ponte. Eles começam uma profunda discussão sobre vida e morte que pode mudar a trajetória de cada um.
De onde vem esse desejo de trabalhar como diretor?
Eu sempre quis trabalhar com a concepção de projetos. Também já fiz quase de tudo em teatro. Fui contrarregra, sonoplasta, iluminador, produtor e assistente de direção. Ao longo dos anos, como ator, vi de perto o processo de diretores tão fantásticos, então sempre imaginei como seria levar ao palco um conjunto de cenas, histórias e personagens. No caso de “O Encontro das Águas”, foi um convite despretensioso da Patrícia Vilela, que soube de um exercício meu no Rio de Janeiro. Eu dirigi um curta-metragem, “Ciúme”, rodado em duas horas e exibido no Festival de Cinema do Rio. Eu já havia trabalhado como ator em um texto do Sérgio Roveri, “Dueto da Solidão”, dirigido pelo Sérgio Ferrara em 2009. Então, a gente foi conversando… Não esperava dirigir uma peça agora, mas, as coisas atravessam nosso caminho e precisamos dar um sentido.
Chegou a cogitar a possibilidade de trabalhar também como ator?
O interessante é que, no início, eu nem tinha vontade. Estava muito embutido da ideia de dirigir. Depois de ver o espetáculo acontecendo, tive vontade de estar em cena, tanto que confessei isso ao ator, o João Fenerich. Vejo isso de uma forma positiva, mas estou muito convencido do meu papel e satisfeito com isso. Se antes, eu precisava cuidar apenas de uma parte, no caso, o meu personagem, desta vez, eu olho para o projeto como um todo. E também não preciso mais cuidar da pele (risos). O difícil é que não se pode fazer mais nada depois do terceiro sinal. Tento controlar minha ansiedade na cabine e praticar o desapego.
+ Leia entrevista com a atriz Debora Bloch.
Você já trabalhou com diretores como Miguel Falabella, Alexandre Reinecke, Sérgio Ferrara, Elias Andreato… O que trouxe de cada um deles para esse trabalho?
Você citou algumas das minhas referências em teatro. Como ator, eu sempre me propus a experimentar diversos gêneros e temáticas. Todas as minhas vivências me ajudam neste sentido. Uma de minhas maiores referências, desde meu início, é a Flavia Pucci, atriz e diretora, com quem estudei e trabalhei. Além disso, existe o espectador também. Eu sempre acompanhei o trabalho dos grandes como Antunes Filho, o Felipe Hirsch, o Peter Brook, Bob Wilson, Robert Lepage e a Monique Gardenberg, por exemplo. O mais interessante em “O Encontro das Águas” foi descobrir o universo do poeta inglês William Blake, que surge como uma das pistas no texto do Roveri e nos serviu como influência para nosso embasamento. Juntamos todas essas referencias para buscar uma identidade própria.
Você se formou em psicologia, não? Como está essa segunda carreira na sua vida?
Eu me formei em psicologia com ênfase em clínica psicanalítica. Cheguei a clinicar durante dois anos, mas, de fato, depois de vivenciar o dia a dia, percebi que a psicologia vai estar, no meu caso, a serviço da arte. Comecei a sentir falta de um começo, um meio e um fim nos meus projetos. O processo contínuo da clínica exige uma disposição que talvez eu possa vir a ter no futuro. Neste momento, eu me sinto inclinado a usar a psicologia em outras áreas.
+ Leia entrevista com o dramaturgo Sérgio Roveri.
De que forma a psicologia vai estar presente nessa direção? “O Encontro das Águas” é, em minha opinião, um texto realmente muito psicológico, voltado para a interiorização dos personagens.
A questão do luto, o desejo de morte e o suicídio sempre me instigaram. Tanto que o tema do suicídio foi o gancho para integrar meus estudos na psicologia e no teatro. É uma peça com enfoque humanista. Trata de uma relação corriqueira, da temporalidade e do poder do acaso. O texto do Roveri é sutil, mas carrega pistas que nos permitiu encontrar camadas mais profundas. Busquei o aspecto mais arquetípico e mítico do espetáculo, sem perder a conexão com o real, através dos personagens, com suas emoções. Ao acompanhar, em cinquenta minutos, o encontro desses personagens eu acredito que o espectador seja convidado a refletir e elaborar suas próprias questões, suas perdas. E, logo, é surpreendido pela simplicidade e sutileza do encontro.
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