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Entrevista: Carla Bruni

Os inquietos, necessariamente, são os mais interessantes. Se uma característica une todas as fases da vida de Carla Bruni (e foram muitas), sem dúvida, é a inquietude, o não conformismo. Nascida na Itália e herdeira de um rico industrial, teve de fugir com a família para a França quando um grupo de extrema esquerda passou a sequestrar […]

Por Luan Freires
Atualizado em 26 fev 2017, 15h01 - Publicado em 21 ago 2015, 21h59
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    Os inquietos, necessariamente, são os mais interessantes. Se uma característica une todas as fases da vida de Carla Bruni (e foram muitas), sem dúvida, é a inquietude, o não conformismo.

    Nascida na Itália e herdeira de um rico industrial, teve de fugir com a família para a França quando um grupo de extrema esquerda passou a sequestrar famílias abastadas da região de Turim. Aos 19, abandonou o curso de artes e arquitetura para se tornar uma famosa modelo. Virou queridinha de Karl Lagerfeld e John Galliano, fez fotos incendiárias com Helmut Newton, estampou campanhas das marcas mais luxuosas do mundo e teve romances com celebridades como Eric Clapton e Mick Jagger.

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    Enquanto estava morando com o jornalista Jean-Paul Enthoven, Bruni, que garantiu nunca ter dormido com ele, se envolveu com o filósofo Raphaël Enthoven, na época casado com a filósofa Justine Lévy. Enthoven é o pai do primeiro filho dela, Aurélien.

    Quando ela completou 30 anos, em 1997, largou o mundo da moda e se arriscou como cantora. Influenciada por Joni Mitchell e Serge Gainsbourg. mostrou ao mundo que, além de uma beleza invejável, possuía uma voz doce, delicada e tocante, além de não decepcionar como letrista. Uma vez que tudo parecia ter se estabilizado, outra surpresa: Bruni se casou com o recém-divorciado presidente da França, Nicolas Sarkozy, pouco depois do mandato dele, em 2008.

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    A carreira, que havia sido interrompida para que ela cumprisse suas funções como primeira-dama, foi retomada em 2013, com o disco Little French Songs, que ela vem divulgar na cidade quarta (26), no Teatro Bradesco, às 21h. Enquanto cuidava de sua segunda filha, Giulia Sarkozy (de 3 anos), Bruni me atendeu por telefone e falou sobre o novo trabalho, o tempo como primeira-dama, o pai que vive no Brasil, o medo de envelhecer e o que ela fará caso o marido, cotado para substituir o impopular François Hollande, volte ao Palácio do Eliseu.

    Você foi primeira-dama da França por cinco anos, uma posição que exige bastante empenho. Há uma canção em seu disco mais recente, chamada Liberté, que parece falar disso. Você se sente aliviada em estar de volta à música, viajando o mundo para cantar mais uma vez?

    Ah, sim, um grande alívio. Mesmo que tenha sido um período muito interessante da minha vida, eu realmente me sinto muito aliviada. Estou feliz de ter um pouco menos de responsabilidades. Tanto eu quanto o meu marido temos mais tempo para cuidar da nossa família, é maravilhoso.

    Não sente falta da vida de primeira-dama?

    De forma nenhuma. Não.

    Você tem 47 anos, ainda que pareça que não saiu dos 20…

    Você é muito simpático.

    Apenas disse a verdade.

    Você é muito amável. Estou gostando dessa entrevista.

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    Como você encara a ideia de envelhecer?

    Escute, eu encaro com certa tristeza. Mas eu faço muitos esforços para retardar o envelhecimento, principalmente cuidando da alimentação. Eu amo beber vinho, por exemplo, mas tento beber o mínimo possível. Eu gostaria de continuar jovem para sempre. Você tem uma voz jovem. Quantos anos você tem?

    Eu? 23.

    Voilá, eu tinha certeza. Adoraria ter a sua idade.

    Algumas pessoas comentaram que Le Pingouin, outra canção do último álbum, fala a respeito do atual presidente da França, François Hollande, o sucessor do seu marido. No que você estava pensando quando a escreveu?

    Quando compus essa música, na verdade, estava pensando em todas as pessoas desagradáveis. O “pinguim” representa todos de quem eu não gosto. Por exemplo, o taxista que, quando uma mulher pede para ele parar, passa reto, ou o motorista de ônibus que fecha a porta bem no momento em que você alcançou o veículo depois de correr muito…

    E você anda de ônibus?

    Sim, sim, é claro. Disfarçada com um chapéu, não conte para ninguém. Mas, enfim, é uma pena, há muitas pessoas assim. Realmente, muitos jornalistas especularam que era sobre o presidente, mas, você sabe, acho que isso diz mais sobre quem fez essa interpretação [risos maliciosos].

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    O seu pai biológio, Maurizio Remmert, mora em São Paulo. Vocês vão se encontrar?

    Claro, com certeza. Nos encontramos com frequência. Estou muito feliz de reencontrá-lo. Temos uma ligação muito forte.

    Você disse certa vez que a monogamia é entediante. Por que e quando você mudou de ideia?

    Eu disse isso para… Bem, foi um gesto de espirituosidade, bem-humorado, sobretudo porque eu sou mulher e é esperado que as mulheres digam exatamente o contrário. Disse isso para ser um pouco provocativa, eu era jovem, acho que tinha 25 anos.

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    Você já comentou que sentia muito medo subir ao palco no começo da carreira como cantora. Ainda sente?

    Ah, sim, eu sinto um medo terrível. Terrível e delicioso ao mesmo tempo. Terrível e maravilhoso.

    E o que você faz para contorná-lo?

    Eu bebo [risos]. Uma cerveja, uma petite cervejinha. Ou uma caipirinha! Estou brincando. Eu me preparo, tento me concentrar. Mas, assim que eu subo ao palco de fato, o prazer de cantar supera o medo.

    Quando você se sentiu mais nua: quando foi fotografada por Helmut Newton (fotógrafo de moda alemão morto em 2004) ou quando subiu ao palco pela primeira vez?

    Certamente me sinto mais nua quando eu canto, mesmo estando completamente vestida. Eu encaro a nudez corporal como algo meramente técnico.

    O que acontecerá com a sua carreira se Nicolas Sarkozy voltar a ser presidente?

    Vou continuar cantando, posso visitar qualquer país, não há impedimento. Na França é mais complicado. Mas, como dizem os árabes, Maktub. É o destino, já está escrito. Não gosto de me ocupar com os problemas antes que eles cheguem. Não adianta nada.

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