Há pouco mais de vinte anos, um elegante trem cumpriu sua última viagem entre São Paulo e Rio de Janeiro. A história da rota noturna sobre trilhos entre as duas maiores cidades do Brasil remonta a 1949, quando uma composição desembarcou no Brasil, vinda dos Estados Unidos, e ganhou o nome de Santa Cruz. Na época, ela partia da Estação Roosevelt, ou da Luz, no centro de São Paulo, em direção à Estação Dom Pedro II, mais conhecida como Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Tratava-se de uma opção sofisticada que, com o passar das décadas, ficou cara demais.
A linha pública foi interrompida pela primeira vez em 1991 e, no mesmo ano, um consórcio privado venceu uma concorrência para explorá-la em formato de concessão por dez anos. Reformado, e rebatizado como Trem de Prata, voltou a circular em 1994 com partidas semanais, nessa fase entre as estações Barra Funda, em São Paulo, e Barão de Mauá, também chamada de Leopoldina, no Rio de Janeiro. Uma segunda composição começou a rodar no ano seguinte, o que tornou a periodicidade diária.
O trem contava com um um carro-bar, um carro-restaurante, dois vagões de bagagem e quatro de dormitórios — dotados de quarenta cabines duplas ocupadas por oitenta passageiros e atendidas por 24 tripulantes. A uma velocidade de 60 quilômetros por hora, a viagem ferroviária durava nove horas e meia pelos 516 quilômetros de trilhos — partia às 20h30 e chegava ao Rio às 6 da manhã.
Poucos anos depois, no entanto, a rota passou a sofrer com atrasos frequentes e a concorrência do avião. Nesse período, o bilhete do trem custava até 120 reais (com direito a um café da manhã), o dobro da média da ponte aérea. Em seus últimos tempos, houve ocasiões em que o Trem de Prata realizou o percurso Rio-São Paulo com menos de dez passageiros em seus vagões. A derradeira viagem ocorreu em 29 de novembro de 1998.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 27 de fevereiro de 2019, edição nº 2623.