A lendária esquina da Rua Xavier de Toledo com a Praça Ramos de Azevedo traz alguns dos ícones mais conhecidos da capital paulista. De um lado, o Teatro Municipal, símbolo da cultura e cartão-postal da cidade. Do outro lado da rua, o conhecidíssimo prédio do antigo Mappin – não importa qual estabelecimento se fixe ali, aquele será sempre o prédio do Mappin. Na outra esquina, o prédio da Light, hoje Shopping Light, um centro de compras bem no coração da cidade que respeita a arquitetura original da construção. Mas aquele trecho da cidade nos remete a outro grande ícone que se estabeleceu ali na década de 70. O policial militar Luiz Gonzaga Leite, conhecido por todos como Guarda Luizinho, que trabalhava na faixa de pedestres da Rua Xavier de Toledo, entre o Mappin e a Light.
Luizinho era uma espécie de herói local. Seu trabalho era marcado por performances que as pessoas paravam pra ficar assistindo. Se um motorista parasse sobre a faixa de pedestres, ele não pensava duas vezes: obrigava o motorista a abrir as portas e fazia os pedestres atravessarem por dentro do veículo. Com gestos dignos de uma apresentação de dança, ele controlava o trânsito no local e orientava pedestres a atravessar corretamente. Não raro, pegava as pessoas pela mão para que atravessassem em segurança, ou ficava de joelhos no meio da rua, impedindo que elas atravessassem em hora errada.
Ele nunca aplicou uma multa. Acreditava que a orientação sempre era melhor do que a punição. E, como todo policial, andava armado, mas seu revólver não tinha munição. Todos que passavam por ali, e até os comerciantes locais, ficavam horas assistindo ao “show” que o Luizinho proporcionava todos os dias. Quando o comando da Polícia Militar fez um rodízio de contingente e mandou o querido policial pra outro lugar, um abaixo-assinado de mais de 65 000 assinaturas foi feito para que ele voltasse à Xavier de Toledo. Quando ele finalmente voltou, alguns meses depois, foi recebido com festa.
Pessoa simples, o Guarda Luizinho adorava seu trabalho, e se orgulha de dizer jamais houve um atropelamento no local onde trabalhava enquanto ele estava por lá. Hoje, aposentado e com quase 80 anos de idade, ele ainda é reconhecido por algumas pessoas que tiveram o privilégio de vê-lo trabalhando. Entre 1971 e 1982, a rua Xavier de Toledo foi um dos pontos mais seguros da cidade para os pedestres. E um dos mais divertidos também.