Quem passa pelos primeiros quilômetros da Rodovia Raposo Tavares se impressiona com a quantidade de motéis que há por ali. Dos mais simples aos mais sofisticados, dos discretos aos temáticos, o trecho é destino certo para quem quer terminar a noite (ou iniciar o dia) num clima muito especial.
Mas quando isso começou? Dos mais de trinta motéis que existem hoje por ali, a maioria foi inaugurada depois que a rodovia já tinha esse apelido. Então, quem foram os pioneiros?
Para entender isso, precisamos conhecer a história do princípio. Tudo começou em 1968, quando Cervando Fernandez Dávila, conhecido como Pepe, inaugurou o primeiro motel do Brasil, o Playboy, na cidade de Itaquaquecetuba, em São Paulo. Naqueles tempos de ditadura militar, hotéis com períodos de estadia muito curtos eram vistos com maus olhos pela população, e eram literalmente proibidos. A polícia chegava a fazer plantão em frente a estabelecimentos suspeitos, esperando que casais saíssem antes de 24 horas de estadia, para levá-los presos. Pepe disfarçou seu motel chamando-o de clube, onde as pessoas entravam e saíam o dia todo, e ninguém sabia o que faziam lá dentro.
Com o tempo, a novidade se espalhou e diversos “clubes” parecidos foram inaugurados pelo país afora, até que esse tipo de hotel fosse finalmente regularizado. Segundo a ABMOTÉIS (Associação Brasileira de Motéis), um dos primeiros motéis de São Paulo foi aberto na região da Raposo: o Bariloche, inaugurado ainda na década de 70.
Nos anos 80, o então prefeiro Jânio Quadros promulgou uma nova lei de zoneamento, fazendo com que a maioria dos motéis só pudesse abrir em rodovias e marginais. Foi justamente nessa época que a Raposo, talvez por causa da vegetação densa que caracterizava o lugar, deixando esses estabelecimentos tão discretos quanto possível, recebeu o maior número de novos motéis e começou a ser conhecida como a Rodovia do Amor.
A segmento moteleiro no Brasil movimenta mais de 4 bilhões de reais por ano, e o país tem mais de 5 000 motéis em funcionamento, gerando emprego direto para mais de 300 000 pessoas, tudo graças a uma ousadia em 1968, o Motel Playboy, em Itaquaquecetuba – que, aliás, ainda existe!