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Vinho e Algo Mais

Por Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Especialista na bebida, Marcelo Copello foi colunista de Veja Rio. Sua longa trajetória como escritor do tema inclui publicações como a extinta Gazeta Mercantil e livros, entre eles "Vinho e Algo Mais" e "Os Sabores do Douro e do Minho", pelo qual concorreu ao prêmio Jabuti
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Conheça o Amarone

Tinto italiano surgiu a partir de processo milenar de tornar as uvas quase passas

Por Marcelo Copello
10 nov 2023, 06h00
Rótulos: amarone (Divulgação/Divulgação)
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A tradição do apassimento — fazer vinhos a partir de uvas ressecadas, como passas, é milenar em toda a Europa. O recioto, tinto do Vêneto, norte da Itália, é produzido desde antes da civilização romana, com uvas apassitas, que secam em esteiras por três a quatro meses antes de sua fermentação, que é interrompida antes que todo açúcar natural da uva se transforme em álcool, gerando um vinho doce.

O amarone teria sido “inventado” ao acaso, quando o recioto acidentalmente fermentou até o final, resultando em um vinho sem a doçura esperada e por isso batizado de amarone (amargão), com teores alcoólicos que vão de 14% (mínimo por lei) podendo ultrapassar os 18%.

O primeiro amarone teria sido feito em 1938 pela Cantina Negrar e lançado como um “recioto seco”. Somente em 1953 foi chamado de reciotto amarone e hoje apenas amarone, que ganhou sua DOC em 1990 e DOCG em 2010.

Cerca de 61% da produção de amarone é exportada, principalmente para Estados Unidos, Canadá, Suíça e Reino Unido. Ao Brasil cabem apenas 2% do total elaborado, embora não faltem admiradores por aqui. Um fenômeno recente é o aumento exponencial em sua produção.

Valpolicella, ripasso, amarone e recioto são quatro categorias de vinho produzidas da mesma região demarcada, a de Valpolicella, variando apenas em seu processo de produção. A área plantada em Valpolicella foi de 4 900 l hectares em 1997 para 8 600 em 2022.

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Este aumento de 175% reflete a fama crescente do amarone em todo o mundo e a relativa facilidade no aumento da produção — já que a região é grande e este é um vinho baseado em um método de elaboração e não em sua origem dentro da região.

Ou seja, enquanto na Borgonha, por exemplo, a categoria mais alta, os Grande Crus, representam 2% da produção e jamais terão esse número majorado, pois se baseiam no vinhedo de origem, na DOC Valpolicella é possível fazer amarone em qualquer lugar, desde que sejam seguidas as regras do apassimento.

Hoje a produção de amarone representa uma fatia grande do total da região (25%), enquanto valpolicella 26%, ripasso 48% e recioto menos de 1%. Como consequência a qualidade do amarone é bastante irregular.

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Outro fato curioso sobre o amarone é o grande número de imitações. Muitos vinhos ao redor do mundo são produzidos com inspiração neste gigante do Vêneto, com uvas pacificadas, algumas vezes até utilizando ilegalmente o nome amarone ou falsificando o conteúdo das garrafas. Somente em 2022 foram registrados 21 processos legais neste sentido.

Um dado recente é que na tradicional composição de uvas do amarone houve uma mudança, a molinara (que traz acidez aos cortes) deixou de ser obrigatória. Hoje, a composição por lei é: corvina (de 45% a 95%), convinona (que agrega muito corpo, pode substituir a corvina em até 50% do blend), rondinella (de 5% a 30%) e outras variedades aprovadas em um máximo de 25%.

O sabor do amarone é característico. É vinho encorpado, muito alcoólico, com textura muito macia, uma ponta de doçura (teores normalmente entre 5 a 7 gramas de açúcar por litro), aromas de passas, de especiarias, trufas negras, glicerina, e leve ponta de amargor no fim de boca.

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À mesa, fica maravilhoso com pratos saborosos, como ossobuco, pato laqueado, carnes cozidas em vinho em geral, paleta de cordeiro, estrogonofe e fígado acebolado.

AMARONE CLASSICO I CASTEI CAMPO CASALIN Do ótimo produtor Michele Castellani. Elaborado com 70% corvina, 25% rondinella e 5% molinara, com trinta meses de amadurecimento em carvalho francês parcialmente novo. Os amarones de Castellani primam pela elegância, equilíbrio e frescor, sem perder a potência e álcool (este tem 15,5%) inerentes à bebida. R$ 528,90, na Amazon.

AMARONE DELLA VALPOLICELLA CLASSICO 2016 Do produtor Cesari. Elaborado com 70% corvina, 20% molinara e 10% rondinella, amadurece três anos em tonéis da Eslavônia (Croácia), tem 15% de álcool. Cor granada escura. Aroma complexo, couro, especiarias, passas, resinas. Paladar encorpado, alcoólico, macio. Segue um estilo clássico, com uma nota de rusticidade. A safra 2016 é excelente para amarone. R$ 419,90, na Evino.

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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867

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