Fabio Does iniciou seus trabalhos entre 1988 e 1989. Já em 1993 entrou para a vertente do grafite relacionada ao hip hop — nessa época, sua principal influência eram os letreiros, pois ele não se interessava muito por personagens. Entre nomes de grafiteiros que admirava estavam os internacionais Cope2 e Can2.
O “wild style” ditou seu início de carreira. Ali, eram observadas diversas influências de elementos indígenas, arquitetura gótica, caligrafia árabe e formatos tribais (essa letra trançada tem uma grande evidência por sua ilegibilidade). E ele evoluiu dentro do próprio estilo, que remete a labirintos.
Hoje em dia, Does vive arte, respira grafite.
Uma de suas primeiras viagens internacionais foi para a França. Durante essa experiência, conseguiu um muro que fazia a divisa do país com a Suécia: de um lado, estava um grande lago e, do outro, os alpes franceses. Uma vista linda e emocionante. De lá para cá, participou de grandes projetos mundo afora, como 1º Bienal Internacional Graffiti Fine Art, em 2010, a exposição Baton Rouge – Texas, em 2013, e o 1º MAAU, em 2011.
Em suas viagens, ficava impressionado com as novidades: todas as ruas possuíam postes com sacolinhas para que os cidadãos pudessem jogar as sujeiras de seus animais de estimação e as calçadas não ficavam imundas, como ele era acostumado a ver. Certa vez, sonhou que estava no Brasil, acordou certo de que estava em sua cidade de origem, olhava pela janela e apesar de achar um pouco diferente, não se conformava de estar em outro país, demorou até conseguir organizar os pensamentos e acostumar-se com a realidade.
Hoje em dia, ele financia sua vida com o grafite. Gosta de pintar por conta própria, mas também recebe muitas encomendas de telas e projetos comerciais. Does faz aquilo que estiver ao alcance: se o trabalho for condizente com seus critérios e princípios, não nega.
Ele acredita que o graffiti e arte de rua são melhores vistos no Brasil do que em outros países. Na Europa, por exemplo, não há muitos locais onde pintar. Lá, geralmente o graffiti acontece em lugares abandonados, pois locais de grande visibilidade podem causar problemas — às vezes, até mesmo em muros autorizados são alvos de complicações. “No Brasil, o pessoal curte, compartilha e aprecia”, diz.
Ao longo desses 25 anos de trabalho, Does acredita que o grafite tenha evoluído muito. “Antes, a galera pintava e mal ganhava um copo de água do dono do muro, hoje em dia o povo elogia, convida para outros projetos”, afirma. Um interessante episódio ocorreu quando ele estava pintando um painel com alguns amigos e, do nada, um motoboy ofereceu uma pizza. Pouco depois, uma mulher deu uma Coca-Cola. Ficaram felizes em perceber que as pessoas ao redor estavam apreciando a arte e reconhecendo essa forma de trabalho. Daí surgem diversos projetos e a tendência é que esse universo cresça a cada dia, fazendo com que a luta de muitos artistas que acreditaram e se dedicaram valha a pena.
Muita gente critica quem pinta na rua e também comercializa a arte. Does acredita que essa postura varia de acordo com artista. “Estou sempre na rua pintando, um dia aparece uma oportunidade de ganhar dinheiro e, claro, não vou recusar. Já faço grafite todo dia, me esforço para que minha arte seja reproduzida, então quando rola uma chance, aproveito. Meu grafite não muda, seja na rua ou comercial”, conclui.