Mostra SP: ‘The Royal Hotel’ traz violência e potência feminina
Julia Garner e Jessica Henwick entregam ótimas performances em filme de drama sobre duas jovens que vão parar em um hotel no meio do deserto
✪✪✪ The Royal Hotel é o novo filme de Kitty Green, cineasta que agradou a crítica com o ótimo drama independente A Assistente em 2019. Em seu novo projeto, ela retoma a parceria com Julia Garner (Ozark) e repete o foco no olhar feminino diante de uma situação desafiadora.
+Martin Scorsese segue provando que é um presente ainda tê-lo na ativa
Desta vez, sua protagonista não está sozinha como em A Assistente (cuja trama acompanha uma jovem que está começando na área de produção de cinema). The Royal Hotel segue duas jovens amigas, Hanna e Liv. Elas estão aproveitando uma viagem pela Austrália, mas fica nas entrelinhas de que também estão fugindo de alguma coisa.
Quando o dinheiro das duas acaba, impossibilitando-as de ficarem no agito de Sydney, elas encontram uma chance de trabalhar num lugar remoto. No meio do deserto.
A recrutadora adverte que elas teriam de estar tranquilas diante da “atenção masculina” e, quando a dupla chega ao local, vê que ela tinha razão: o trabalho é em um pub e o comportamento dos homens que moram na área já dispara um alerta de imediato.
Mas diretora não entrega todos os fatos de antemão. Há violência contra as bartenders? Não dá para saber as reais intenções dos moradores logo de cara. Kitty prefere falar com olhares e comportamentos suspeitos dos homens. Desde o chefe até o cliente bêbado no balcão, tudo incomoda Hanna (Julia), mas Liv (Jessica Henwick) não parece se importar tanto.
É a personagem de Julia quem toma as rédeas da situação mesmo quando tudo escala para a violência. E essa escalada é a característica mais interessante do filme. O que eles querem? Como elas vão reagir? Como poderiam sair dali em segurança? Todas essas perguntas elevam a atmosfera a ponto de as falsas aparências se libertarem de uma vez só.
No entanto, logo após atingir o pico da tensão, o filme acaba. A história é interessante o suficiente para provocar curiosidade, mas a sensação é que ele nunca ultrapassa essa linha. Fica claro que o foco da diretora é mostrar o recorte daquelas personagens especificamente naquela viagem, mas tal escolha tira um pouco a força do desfecho.
Filme visto na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.