Escutei essa pergunta em diversas ocasiões desde o primeiro ano da organização do Congresso Internacional de Felicidade. Com certeza, em algum momento da vida, todos já se fizeram esse questionamento. Eu mesmo, durante as minhas leituras e estudos a respeito dos conceitos científicos de felicidade e filosofia, me indaguei: sou feliz?
Para o professor de psicologia positiva Mihaly Csikszentmihalyi, autor da teoria do Flow, que estuda os momentos de pico da ótima experiência humana, para tornar alguém infeliz basta lhe fazer essa mesma pergunta. E de fato, apesar de fazer sentido, a pergunta não é útil. Como poderíamos responder a essa essencial questão? Usando de comparações entre dias e períodos de nossas próprias vidas? Ou fazendo um somatório médio de como passei esse período? Comparando a minha felicidade com a de outras pessoas? E como seria possível medir quanto o outro é feliz e quanto eu sou feliz? Teríamos de ter um padrão preconcebido do que é a felicidade para eu poder dizer se estou nesse padrão ou não, mas o fato é que não existem padrões quando se trata de felicidade e, portanto, não existe uma forma confiável para responder a essa questão e, mesmo que houvesse, nenhum de nós seria mais feliz com a resposta. Essa pergunta íntima pode nos colocar em uma armadilha, pois sugere uma abordagem binária para essa grande busca: ou somos felizes ou não somos. Além disso, ela nos dá um veredicto final e nos coloca num lugar passivo.
De acordo com essa pergunta, a felicidade passa a ser o final de um processo, um ponto que poderia ser hipoteticamente alcançado ao fim de uma jornada e que representaria seu término. No entanto, nós sabemos que esse ponto não existe, e agarrar-se a essa ideia pode levar à frustração e à insatisfação.
As linhas espirituais, filosóficas e científicas convergem para uma mesma conclusão: sempre podemos ser um pouco mais felizes, não importa quão boa e completa esteja a vida. Em vez de me indagar se sou feliz ou não, passei a me perguntar: “como posso ser mais feliz?”. essa pergunta abre novos horizontes e me coloca em uma posição ativa, levando em consideração a própria natureza da felicidade como um processo de autodesenvolvimento e autoconhecimento permanente. Sem um ponto finito ou destino, mas construído, dia após dia, a cada escolha e opção que fazemos. Em vez de nos sentirmos decepcionados por ainda não termos chegado ao ponto em que gostaríamos e desperdiçar energia tentando avaliar se sou ou não feliz, e o quão feliz eu sou, passo a reconhecer a felicidade como um recurso ilimitado e coloco todo foco da minha atenção e energia em como posso obter mais desse recurso. A felicidade então deixa de ser um ponto fixo e uma meta atingível, e se torna um processo de desvelar a sua própria percepção. Só sou feliz a partir de quanta percepção tenho da minha felicidade.
A experiência subjetiva não é a cereja do bolo para aqueles que possuem boa saúde, um bom emprego e uma gorda conta bancária. A experiência subjetiva não é uma das dimensões da vida. É a vida em si. Condições materiais são secundárias, elas só nos afetam indiretamente — através da experiência. Saúde, dinheiro etc. podem afetar nossas vidas para melhor, mas, se eu não aprender a controlar minha atenção e não tiver percepção dessas vantagens, elas são inúteis. Ser feliz é um processo interno e vitalício no qual eu me coloco como figura central e responsável no comando de uma jornada de consciência. Gosto de ver a felicidade como um superpoder. Quando estou feliz, eu encontro o melhor de mim mesmo,e esse melhor de mim pode se relacionar com o melhor do outro, para assim colher o melhor que a vida tem a oferecer.
Gustavo Arns (@gustavo_arns) é o idealizador do Congresso Internacional de Felicidade. Idealizador do centro de estudos de felicidade e presidente da Escola Brasileira de Ciências Holísticas, é professor da pós-graduação em psicologia positiva da PUC-RS.