Quantas vezes você já se pegou fazendo algo que acredita que te faz mal? Pode ser comer uma comida que não te cai bem, preferir o sofá àquela caminhada no parque ou até manter um relacionamento que já não faz mais sentido.
E o sentimento que vem depois é um só: culpa. Culpa por não cuidar melhor da sua alimentação, por não ter tido mais força de vontade, por não conseguir dizer “não” para a outra pessoa. Eu já passei por isso e sei como é. Também sei que a solução não vem de fora, vem de dentro. Vem do desejo intenso de querer fazer diferente, de dar um passo a mais na caminhada para ser quem queremos ser no futuro.
Então, se queremos ter uma alimentação melhor, precisamos aprender a comprar alimentos saudáveis e abrir mão dos insalubres. Se queremos emagrecer 5 quilos, precisamos perder um pouquinho de peso todos os dias. E se queremos ter um relacionamento incrível, precisamos cultivá-lo diariamente.
Percebe como tudo isso é um processo? Nada acontece da noite para o dia. É o nosso compromisso com os nossos objetivos que nos leva aonde queremos chegar.
Eu não quero romantizar aqui esse processo. Eu sei bem que mudar dá trabalho. Precisamos abandonar velhos hábitos, explorar coisas novas, testar e falhar. e ninguém quer falhar, certo? Todo mundo quer o corpo sarado sem suor, ter um relacionamento harmônico e apaixonado, começar uma nova carreira já como CEO da empresa.
Ou seja, pular a parte do processo e cruzar logo a linha de chegada. Parte de mim acredita que seria melhor que a vida fosse fácil assim mesmo. E outra parte já aprendeu a curtir o processo. Aquela história de que a jornada acaba sendo mais importante do que o destino, sabe? O fato é que não adianta ficar aqui idealizando uma versão minha que já nasceu com tudo pronto. eu sou o que sou. tenho o que tenho. Se quero melhorar, preciso arregaçar as mangas e trabalhar. Afinal, qual seria a alternativa? Não melhorar? deixar de lado meus sonhos e fazer outra coisa? Não. A verdade é que eu não tenho alternativa. eu só posso entender quem eu sou e viver alinhado com essa realidade.
Eu costumo dizer que saúde é liberdade. Me deixa explicar isso rapidinho. Muitas vezes, quando as pessoas me veem cuidando da minha alimentação, por exemplo, acreditam que eu estou abrindo mão da minha liberdade para comer saudável. Elas pensam que eu sou prisioneiro dos meus hábitos. Mas é o contrário. Eu sou livre graças à minha saúde. e sou saudável porque cuido da minha alimentação e do meu estilo de vida. Isso significa abrir mão de algumas escolhas em nome de outras, como tudo na vida. O fato é que só quem tem saúde pode ter liberdade de verdade.
Eu vejo pacientes quase todos os dias e testemunho, em primeira mão, como uma pessoa fica presa quando o seu corpo ou sua mente adoecem. A pessoa acha que é livre para viver uma vida de sedentarismo, até que seu corpo para de funcionar direito (a máxima diz que quando se trata do corpo, ou você usa, ou você perde). Com um problema nos joelhos ou na coluna, a liberdade de movimento se torna mais escassa, percebe?
Eu vejo esse paradoxo na minha prática clínica o tempo todo: antes de ficar doente, a pessoa não dedica um minuto para compreender o efeito da alimentação sobre a sua saúde. Não é por mal… ela nem tinha como saber que aquilo era importante. Depois de adoecer, ela daria tudo para ter outra chance e recomeçar. Eu te convido para a seguinte reflexão: o que falta para você ser saudável e livre de verdade?
Matheus Macêdo está à frente da plataforma Vida Veda (vidaveda.org). Foi o primeiro brasileiro a concluir o bacharelado em medicina e cirurgia ayurvédica na Índia, onde viveu por sete anos. Acredita que esse sistema tradicional pode ser combinado com o que há de mais novo na medicina e nutrição modernas.
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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762