Reconhecer nossas forças
Para Juliana Carneiro, o autoconhecimento é essencial para a felicidade; através dele que nós conhecemos nossas forças
Quando recebi o convite para escrever sobre forças e virtudes humanas para A tal felicidade, senti um misto de euforia e contentamento, seguido de um tipo de congelamento, que brotou como uma voz no fundo da minha consciência que perguntava: “e agora?”. Essa simples pergunta detonou uma série de outras reflexões, mas tudo ficou mais claro quando entendi que este texto não seria sobre chegar, mas sobre percorrer.
Percebi que falar do meu trabalho com as forças de caráter é falar sobre mim mesma, sobre meu processo de autoconhecimento em busca da minha melhor versão. Afinal, o que é o exercício da vida virtuosa senão essa busca constante pelo autoaperfeiçoamento e a excelência?
As virtudes sempre estiveram presentes na filosofia, na teologia, na psicologia e dentro de nós. Para Aristóteles, viver bem é agir bem. ele considerava a virtude e o seu exercício como o mais importante caminho para a felicidade. Para Platão, as virtudes são o conjunto de características que contribuem para que os indivíduos tenham uma vida boa. As virtudes e as forças de caráter seguem dentro de nós como um guia para ação correta em cada caso.
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Mas afinal o que são as forças de caráter? São as características positivas da personalidade e refletem a forma como pensamos, sentimos e agimos. Todos nós possuímos 24 forças de caráter: espiritualidade, bondade, amor, inteligência social, criatividade, curiosidade, honestidade, perspectiva, esperança, humor, prudência, autorregulação, critério, perseverança, entusiasmo, amor ao aprendizado, apreciação da beleza e excelência, perdão, liderança, trabalho em equipe, bravura, imparcialidade, gratidão e generosidade.
Essas qualidades humanas são consideradas a espinha dorsal da psicologia positiva, movimento científico que estuda a felicidade, ajudando as pessoas a identificar e aplicar suas forças nas diversas áreas da vida para elevar o bem-estar, aumentar a conexão com os outros, melhorar o desempenho e contribuir para o bem comum.
Meu encontro com a psicologia positiva me proporcionou aquele tipo de sensação mágica de “achei o que procurava”. Decidi me dedicar ao estudo e à prática das forças e virtudes e me tornar uma especialista no assunto. O que eu não sabia é que esse estudo iria muito além do âmbito profissional.
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Passei a vida adulta debruçada sobre o tema “carreira”. Hoje percebo que nunca foi sobre trabalho, sempre foi sobre me conhecer e colocar minhas forças e virtudes a serviço do meu propósito, que, no final das contas, é servir ao mundo de uma forma que faça sentido para mim e para os outros. A grande virada de chave ocorreu quando compreendi o óbvio e voltei para o que deveria ser o ponto de partida de toda jornada: “conheça a ti mesmo, esse é o supremo conhecimento” (Sócrates).
Existem inúmeras formas e abordagens para ir em busca de quem verdadeiramente somos. O meu convite é para que você trilhe o caminho do autoconhecimento usando como bússola suas forças de caráter. O primeiro passo é fazer o teste VIA, disponível gratuitamente na internet com 121 questões. Ao responder a elas, você descobre as forças que mais representam a sua identidade.
As forças são como nossos superpoderes, que vivem dentro de nós como um tesouro escondido, pois por algum motivo não tínhamos acesso a ele, ou por desconhecer, ou por não compreender o poder que carregamos. Elas são fontes inesgotáveis de felicidade e realização, nos conectam ao bem-estar e ao senso de propósito e nos ajudam a viver nossa melhor versão.
Todo dia é uma oportunidade para sermos 1% mais conscientes das nossas forças e virtudes, 1% mais engajados no nosso trabalho e relacionamentos e, finalmente, 1% mais felizes.
Juliana Carneiro é comunicóloga, pós-graduada em psicologia positiva. Apaixonada pelo estudo e pela aplicação das forças e virtudes humanas, criou o Instituto Forças em Ação (IFA). Sua missão é transformar indivíduos e organizações por meio da educação pelas virtudes. Seu perfil é @julianacarneiro.ifa.
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765