Tem felicidades que chegam em traje social. Comparecem aos casamentos, formaturas, premiações e adoram uma noite de homenagens. Em geral, produzem grande orgulho para a família e resultam em fotos dignas de porta-retratos sorridentes.
Outras felicidades são casuais, vestem jeans e camiseta, aparecem em reuniões entre amigos, churrascos de ex-colegas de turma, em mesas de bar, rodas de samba e viagens. Às vezes essas felicidades nos visitam de pijama, quando beijamos nossos filhos adormecidos em suas camas, ou recebemos um diagnóstico de cura.
São muitas as felicidades que sentimos quando coisas boas acontecem com a gente ou com as pessoas que amamos. Todos nós já vivenciamos essa sensação, até nas pequenas coisas do dia a dia, que vão desde encontrar dinheiro no bolso de um casaco a receber o sorriso de um bebê que cruza nosso caminho.
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Mas há outras felicidades que vão muito além. Não são maiores ou menores, porque não se pode comparar o que não se pode medir. São diferentes porque têm outra natureza. É aquele tipo de felicidade que vem de chinelo, ou descalça, e coloca a mão em nosso ombro quando fazemos o bem para o outro. Ela se faz presente quando doamos nosso tempo, nosso afeto e ajudamos um ser humano anonimamente. Ou quando adotamos um cachorro abandonado, salvamos qualquer vida.
Existe uma felicidade tranquila e plena que brota junto com a árvore que plantamos, mesmo sabendo que não estaremos vivos para desfrutar sua sombra. E que nos faz sorrir de gratidão quando pensamos que as sombras que nos refrescam hoje também foram plantadas por mãos igualmente anônimas que talvez não estejam mais aqui.
São muitas as versões dessa bênção a que chamamos felicidade, incontáveis. E para que a gente reconheça e experimente cada uma delas basta estar atento. Ela pode vir de qualquer lugar, a qualquer hora, sem avisar. Pode passar num átimo ou ficar por alguns momentos. Pode fazer morada e permanecer anos ao nosso lado. Pode partir subitamente e deixar saudade. Não temos controle algum sobre suas aparições, por isso é prudente deixar a casa sempre pronta, a mente sempre atenta, o coração sempre aberto. de repente, quando menos se espera, ela vem. E aí, basta abrir um sorriso, os braços e recebê-la dizendo:
— Bem-vinda, felicidade… Sua linda!
Rosana Hermann é física, jornalista, escritora, roteirista e palestrante. Apresentadora do programa Porta Afora, ao lado de Fabio Porchat, é também maratonista amadora. Seu livro mais recente, Celular, Doce Lar, discute a dependência dos smartphones.
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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de dezembro de 2020, edição nº 2717.
- Não dá para ser feliz só aos sábados, domingos e feriados
- Inteligência Espiritual nos traz propósito para o que fazemos
- As decisões que importam são feitas de imaginação