Você costuma iniciar o ano com uma lista de metas ligadas a trabalho, relacionamentos, dinheiro, corpo ideal? Atenção. Segundo um estudo apresentado pela Universidade de Yale, essas questões vão na contramão da felicidade, nos geram angústia e uma sensação crônica de insatisfação.
O que então nos traz felicidade de fato? Em 2018, tive a oportunidade de conviver com o professor Tal Ben-Shahar, autor da aula mais disputada da história da Universidade Harvard, dedicada justamente a responder a essa pergunta. Ele fala das cinco áreas que interferem no nosso bem-estar: a espiritual, a física, a intelectual, a relacional e a emocional. Tudo o que aprendi com ele fazia muito sentido, mas levei ainda algum tempo para sair do transe social do sucesso e me conectar comigo mesma.
Eu tinha uma vida socialmente considerada de muito sucesso. Morava num grande apartamento num bairro nobre de São Paulo, liderava projetos nas mais renomadas instituições do país e chegava a fazer quatro viagens a trabalho numa só semana. Tinha a vida que planejei, mas convivia com uma estranha sensação de insuficiência. A pandemia me trouxe ainda mais trabalho e, somadas as inseguranças do momento, tive um piripaque — um burnout.
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Pausei a agenda. Me reconectei com o livro da enfermeira australiana de cuidados paliativos Bronnie Ware, que descreve os principais arrependimentos dos pacientes terminais. O primeiro deles já me fez pegar papel e caneta: “Eu gostaria de ter tido uma vida fiel a mim mesmo e não a vida que os outros esperavam de mim”. Repensei para onde eu estava indo. O que seria uma vida fiel a mim mesma?
Em 2020, desejei que a vida fosse mais leve. Escolhi redirecionar a minha carreira e me mudei para uma casinha no meio do mato e ao lado do mar, em Florianópolis. Aos poucos, minha rotina foi ficando mais leve, assim como minha agenda, minhas roupas, minhas relações. A leveza se tornou o meu princípio vital e a grande balizadora das minhas decisões. No entanto, percebi que algo fundamental ainda estava muito pesado, quanto mais eu me conectava comigo, mais percebia dores musculares, especialmente nas costas, algo que eu estava anestesiando havia anos.
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No início de 2021, decidi que não queria mais essas dores. Intencionei sentir leveza especificamente no meu corpo. Quando declarei isso em voz alta, chorei. Chorei porque senti que essa era a coisa mais importante para mim. Isso era autoamor.
Defini pela primeira vez na vida que o meu corpo seria a prioridade e que não desmarcaria um compromisso com ele para cumprir uma agenda profissional, como sempre havia feito até então. Comecei a listar do que o meu corpo precisava: fiz um check-up, contratei uma nutricionista focada em veganismo, uma profissional incrível de quiropraxia, massoterapeutas e consultei uma neurologista, que me indicou um tratamento natural para o que ela diagnosticou como fibromialgia.
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Ao pesquisar sobre a condição, percebi que havia muita emoção represada em mim, apesar de essa ser a minha especialidade de trabalho. Intensifiquei a psicanálise e lá pude compreender que movimentos o meu corpo pedia: boxe, para me conectar com a raiva reprimida; exercícios funcionais, para me fortalecer; trapézio de circo, para levar a minha criança interior para brincar; banhos de mar e sol também se tornaram mais presentes na agenda e, por último, a dança, que veio integrar dois pedidos: o de ser leve na vida e o de deixar o corpo ser leve também. Meu corpo se tornou meu professor, fiquei mais intuitiva e o trabalho ganhou mais qualidade.
Inicio este 2022 com a vontade de integrar ainda mais os meus corpos físico, emocional, intelectual e energético e compartilhar esse poder com quem também deseja uma vida mais plena de significado. E você, o que vai genuinamente priorizar neste ano?
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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771