Sempre fui uma pessoa dedicada aos estudos. Fui atleta, vim fazer faculdade nos EUA, me formei em biotecnologia integrando o time de natação. A minha mente era, ao mesmo tempo, científica e fechada. Mantinha hábitos saudáveis, mas achava que qualquer coisa diferente do que já conhecia era conversa de louco.
Trabalhando no mercado financeiro, comecei a ter dor nas costas. Elas iam e vinham, fazia fisioterapia, injeção de corticoides… Ouvia que meus músculos não eram fortes, mas nadava todos os dias, não era verdade. Acreditava que aquela rotina me preenchia e realizava — até o nascimento da primeira filha. Ali as fortes dores na lombar aumentaram e a rotina começou a ter de sofrer alterações. Quando minha filha completou 10 meses de vida, descobri que estava grávida novamente e, no último trimestre da gestação, a mais velha adoeceu. Ou me dedicava integralmente a minha carreira ou a minha família. Optei pelos meus filhos.
Só porque eu sabia que tinha saúde física comecei a questionar os diagnósticos que ouvia. Lembrei do livro Healing Back Pain (em português, Curando a dor nas costas), do doutor John Sarno. Ele dizia que a dor como a que eu sentia vinha de emoções suprimidas — e a terapia era o tratamento. Comecei nessa aventura e me dei conta que por muito tempo guardei minhas emoções. O que eu poderia fazer para me ajudar? Foi quando a meditação entrou na minha vida. Não era simples. Minha cabeça não parava, achava que meditar era perda de tempo, levantava e ia embora de uma aula nessa parte.
Numa meditação deitada, tive um momento de clareza e vi a imagem de uma serpente. Fui atrás do significado e descobri que o animal era o símbolo do kundalini yoga. Na terapia, havia começado a entender que havia os aspectos do corpo e da mente, e eles estavam conectados. No kundalini yoga, entendi que faltava um terceiro aspecto, a alma.
Meu corpo só estava querendo me dizer que eu estava desconectada, que não estava alinhada nesses três aspectos. A dor era o sinal do meu corpo, me lembrando que precisava integrar corpo, mente e alma. Em cada aula que fazia, sentia que algo em mim desbloqueava. Era como se a energia presa começasse a fluir.
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Era o início de 2017 e decidi entender que prática era essa que tinha mudado a minha vida. Comecei um curso de formação com a intenção de ganhar autonomia no meu processo, e não de virar professora de alguém. Meu plano era terminar as aulas, encerrar esse período sabático e voltar para Wall Street. Tinha um plano perfeito na minha cabeça, todo estruturado, mas o universo não funciona desse jeito.
Quando assinei o contrato de trabalho para voltar ao mercado, tive dor nas costas! Só que agora eu entendia, não poderia continuar naquele caminho, senão iria adoecer novamente. Comecei a dar aulas de kundalini yoga, criei um canal no Youtube, fui entender de onde vinham os meus traumas, escrevi um livro.
Ensinar kundalini yoga não é a minha nova carreira, mas, sim, minha missão na terra. Hoje, não estou aqui para trabalhar, mas para servir a outras pessoas, para que elas também possam viver melhor e em harmonia com a sua própria essência.
Nosso corpo está aqui para nos ajudar, assim como a nossa mente. Mas precisamos trabalhá-los. As pessoas acreditam que são os seus próprios pensamentos, mas não são. Temos dificuldade de escutar nosso corpo, que dirá a nossa alma, que fala num sussurro. Se há muito barulho, você não vai conseguir.
Durante um dos muitos tratamentos que fiz, uma acupunturista me falou: “Daniela, o universo funciona da seguinte maneira. Ele te diz ‘Não, não é por aí’. A gente não escuta. Depois ele pega uma luva de pelica e fala ‘Não, não é por aí’. Se a gente não escuta, ele pode dar um tapa. Até passar com um trator em cima de você para ver se você entende”. Levei a sério esse ensinamento e hoje fico atenta aos sinais.
Ex-executiva do banco JPMorgan Chase & Co., Daniela Mattos viu sua história se transformar após o nascimento dos filhos e das fortes crises de dores na lombar. Foi quando encontrou na prática de ioga um caminho para a cura e sua verdadeira missão de vida. É autora do livro Sat Nam — Você É Seu Próprio Guru.
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de abril de 2021, edição nº 2733