Uma das minhas memórias mais antigas da aula de artes no Ensino Fundamental envolve construir um mosaico do quadro Abaporu (1928) com papel crepom. Minha professora era criativa. Mais tarde, descobri que ela não era a única a amar o quadro de Tarsila do Amaral: grande parte dos brasileiros estabeleceu o primeiro contato com a artista em alguma variação dessa atividade. O grandalhão não mora aqui (está exposto no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), mas em sua visita recente para a mostra Tarsila Popular, do Masp, fez sucesso. Todo mundo queria ver de perto o quadro brasileiro mais valioso.
Ele já voltou para a Argentina, mas uma réplica em larga escala é a atração principal de Tarsila para Crianças, que foi inaugurada no Farol Santander na terça (26). Com curadoria da sobrinha neta Tarsila do Amaral, Patricia Engel Secco e Karina Israel, a cenografia é assinada pela YDreams Global, a mesma responsável pela recente instalação de Van Gogh no Shopping Pátio Higienópolis. Segundo Tarsilinha, que é responsável por administrar o espólio da artista, a intenção é formar uma nova geração com gosto pela arte. “A minha tia tinha uma ligação muito forte com as crianças. E por conta do site, recebo milhares de pedidos de professores e alunos para fazer algo sobre a vida dela. É um trabalho de pesquisa que já está em curso há alguns anos”, conta.
No 20º andar, o primeiro ambiente é chamado de Vila dos Sentidos e formado por quatro casinhas, cada uma com uma característica marcante da infância de Tarsila. Tudo ambientado em um cenário que parece fazer parte do quadro A Feira (1924), com palmeiras e cestos de frutas. Ao lado, fica uma projeção com alguns dos elementos de suas pinturas, como cactos e abacaxis. Ainda neste andar está a a Toca da Cuca, em que o desafio é atravessar uma cama de gato para chegar a uma projeção com animais de jardim fugindo da personagem central do quadro A Cuca (1924). A instalação explora bem as cores vibrantes da pintora e gera um resultado vibrante. O verde tem presença forte em todos os ambientes.
O andar de baixo é bem mais interessante visualmente. A primeira atração para a garotada são dois balanços interativos, que misturam as cores mais usadas por Tarsila no chão, projetadas digitalmente. Elas adoram a brincadeira. Ao lado, um pouco escondido, está um teste para descobrir qual é o quadro de Tarsila a partir de suas cores – a repórter que vos fala conseguiu acertar nove de dez. Aquela professora estaria orgulhosa.
Mais para o fundo estão dois ambientes instagramáveis. O primeiro, inspirado no quadro Sol Poente (1929), traz uma sequência de círculos laranjas concêntricos iluminados e almofadas amarelas em frente. Ao lado fica A Lua (1928), representado por mais um balanço, dessa vez no formato do satélite. No centro da parede final da sala está a estrela da festa. O Abaporu surge em versão gigante, pronto para um papo com os visitantes. Ou deveria estar. Durante a minha visita, o recurso para conversar com a obra utilizando inteligência artificial não estava funcionando.
No geral, a mostra é bem direcionada para o público que pretende atingir. É pensada para crianças pequenas, então os adultos desacompanhados podem achá-la pouco interessante. A garotada, no entanto, fica apaixonada pelos vários espaços para brincar. Vale lembrar: os ingressos já estão a venda no site. Não há vendas específicas para a mostra, pois o Farol vende um ingresso único para o prédio, no valor de R$ 25,00.
Tarsila para Crianças
- Farol Santander
- Rua João Brícola, 24, centro.
- Telefone: 3553-5627
- Terça a domingo, 9h às 20h
- R$ 25,00
- De 26 de novembro a 2 de fevereiro.