O jornalista Itamar Montalvão, de 42 anos, enfrentou uma série de problemas nos rins e passou por períodos delicados na vida. Agora, recuperado, se prepara para encarar sua primeira meia maratona. Confira essa história para lá de inspiradora!
Aos três anos de idade, Itamar teve um câncer no rim esquerdo, que precisou ser retirado. Fez quimioterapia durante cinco anos e recebeu alta. “Vivi grande parte da vida com apenas o rim direito. Até que em 2006 fui diagnosticado com Glomeruloesclerose Segmentar e Focal (GESF), uma doença que lenta e progressivamente vai comprometendo a função renal. Segurei bem a onda sem hemodiálise por três anos, apenas tendo disciplina na alimentação (evitando alimentos muito proteicos, que exigem mais do rim) e cuidando da pressão arterial. Mas como é uma doença incurável e progressiva, não havia muito o que eu pudesse fazer a não ser retardar o processo final”, conta. E ele veio em 2009, quando a função do único rim que tinha ficou totalmente prejudicada. “Comecei a fazer hemodiálise no Hospital Albert Einstein. Foram seis anos, até encontrar um doador compatível para o transplante.”
O início do tratamento foi difícil. “Foi um período de adaptação física. A hemodiálise, se pararmos para pensar, é um processo muito antinatural. Retirar o sangue do corpo, filtrá-lo e devolver ‘limpo’ depois é um processo agressivo sob o ponto de vista fisiológico. Mas me adaptei bem, até mesmo pela minha idade e condição física. A minha pior fase foi nos meses imediatamente anteriores à diálise, quando ainda não realizava o tratamento e já estava na fase final da GESF, quando não conseguia mais interromper o avanço da doença apenas com meu comportamento e cuidados. Minha mãe precisava vir do Rio para ficar comigo pois não tinha fôlego sequer pra tomar banho sozinho”, lembra.
Itamar diz que a doença renal crônica é controlável e a máquina da hemodiálise hoje em dia é muito moderna e segura, substituindo perfeitamente as funções exercidas pelos rins (filtração sanguínea e controle de volume hídrico). “O maior problema era a restrição de agenda, não ser dono do meu tempo, viver preso a um hospital. Literalmente.”
Mesmo assim, ele procurava levar uma vida normal. “Um dos meus maiores orgulhos nessa história toda foi ter incluído a doença e o tratamento na minha rotina, no meu planejamento de vida, e não o contrário. Não deixei de fazer nada do que queria fazer. Durante os seis anos de hemodiálise, conheci quatro países diferentes, fiz uma segunda faculdade, escrevi um livro. Continuei trabalhando, namorando e treinando.” Nessa época Itamar já corria, mas sem orientação específica. “Era mais uma corrida básica de manutenção, para bom funcionamento do sistema cardiorrespiratório e para evitar ganho de peso.”
O transplante renal aconteceu há pouco mais de um ano, em 7 de março de 2015. “Minha recuperação foi surpreendentemente rápida. Recebi o rim de um doador falecido, mas a compatibilidade foi tamanha que o órgão começou a funcionar imediatamente após ser transplantado. Minha última sessão de hemodiálise foi horas antes da cirurgia. Depois dela, não fiz mais uma sequer. Isso é bem raro em se tratando de doador falecido. Meu grau de compatibilidade com essa pessoa foi tal que fez meu médico brincar dizendo que eu tinha um irmão gêmeo perdido por aí.”
Dois meses após o transplante, o jornalista teve a liberação médica para trotes leves e voltou a se exercitar. “Com quatro meses de operado, comecei a apertar o passo, até que em agosto de 2015 fiz minha primeira prova, os 10k da Disney Run, completando em 1h10. Hoje treino para a Meia Maratona do Rio, no final de maio, e para a Meia Maratona de Buenos Aires, em setembro. Meu objetivo é realizar uma maratona, a de Berlim (em setembro de 2017). Mas é só para ter a experiência de vida de ter corrido ao menos uma maratona.”
Itamar diz que corre por gosto, por saúde e prazer. “Mas corro, sobretudo, porque após o transplante a corrida funciona como uma espécie de atestado de saúde psicológico para mim. Sou muito encanado com questões de saúde, como se pode imaginar. Após o transplante, fiquei tão preocupado que tudo desse errado que não conseguia aceitar direito que tudo estava dando certo! Fiquei mais angustiado pelo medo após a cirurgia que me libertou, do que todos os anos anteriores. Percebi que isso era um sentimento nocivo para mim e fui fazer terapia. Então, correr uma meia maratona para mim é uma espécie de recado: ‘Deixa de ser bobo. Ninguém corre uma meia maratona se há algo errado com o corpo’. Aí, quando completo os treinos e me saio bem, fico tranquilo de que não há nada mesmo com o que me preocupar”, revela.
De janeiro para cá, o jornalista focou em um treinamento orientado e desde então não houve um dia sequer do planejado que ele não tenha corrido. “A mesma disciplina que dediquei ao meu tratamento, hoje dedico ao treino.”
Pelos resultados que tem colhido nos treinos, sua expectativa é terminar a meia maratona perto de duas horas. “Esse é meu desejo. Mas só de concluir e sair bem de uma prova dessas tendo passado por um transplante há pouco mais de um ano já será bom demais! O tempo que eu gostaria de fazer, se vier, será só a cereja do bolo.”
De toda sua história, Itamar diz que tira a seguinte lição: “O corpo não passa de um escravo da cabeça. Eu não controlei ficar ou não doente, mas eu controlei a minha reação.”