O escritório Metro Arquitetos, de Martin Corullon e Gustavo Cedroni, que fica no centro de São Paulo, debuta na capital pernambucana, Recife, com um projeto de requalificação dos espaços da Oficina Brennand.
O lugar, situado no bairro da Várzea, próximo ao câmpus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), renasceu no ano de 1971 como ateliê do escultor, ceramista e pintor Francisco Brennand (1927-2019), um dos grandes nomes das artes plásticas do Brasil no século XX.
Mais do que um local de produção, servia à experimentação poética do artista. Um dos jardins da oficina tem as mãos e os olhos do reconhecido paisagista Roberto Burle Marx (1909- 1994). O conjunto também engloba um painel com texto de Ariano Suassuna (1927-2014) cravado na cerâmica.
Nesse contexto, o ateliê se transmuta em um mundo à parte, em que as esculturas de Brennand buscam versões alternativas e inventivas para os primórdios do mundo. E flertam, sem ortodoxia, com o movimento armorial, vertente dos anos 70, que rearranja a cultura popular nordestina em uma roupagem de verniz fantástico e erudito.
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A ida da Metro para o Recife tem explicação em uma parceria passada, com Lucas Pêssoa, diretor-geral da oficina até dezembro de 2021 — em seguida parte para a gestão de Inhotim, em Brumadinho (MG). “Nós já tínhamos trabalhado em um projeto semelhante no prédio Lina, quando ele era diretor financeiro do Masp (detalhe: o Metro também assina o prédio Pietro, anexo da instituição paulistana a ser inaugurado em 2023)”, explica Corullon.
Ele afirma ainda que a iniciativa em Pernambuco conta com etapas de curto, médio e longo prazo. “Acredito que a próxima fase tenha relação com a reativação do acesso no lado sul. Hoje, a oficina opera somente com o acesso no lado norte”, aponta.
O fluxo entre essas diferentes entradas, explica, desembocará em um restaurante — a ser instalado — e na bilheteria, que ganhará vida a partir da reforma de um galpão, hoje desativado.
Em curtíssimo prazo, a Metro ficou responsável pela expografia da mostra Devolver a Terra à Pedra que Era, que comemora os cinquenta anos da instituição e segue em cartaz até 12 de outubro de 2022 no espaço Accademia — grafa-se com dois “c” como na Itália.
Com 200 itens, a maioria feitos por Brennand, tem curadoria de Julieta González e de Júlia Rebouças, diretora artística do espaço. “Queremos ampliar a programação e nos tornar um centro de referência no Brasil”, diz Marianna Brennand, sobrinha-neta do artista e presidente da entidade.
Sem medo da mudança, ela ainda aborda outro ponto a tratar: “Hoje, a captação de recursos está centrada no eixo Rio-São Paulo, precisamos que os patrocinadores nos vejam como destino possível”.
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Publicado em VEJA São Paulo de 01 de dezembro de 2021, edição nº 2766