Em Miragem, na galeria Pilar, Rodolfo Borbel Pitarello reúne dezoito pinturas, como Cruzul — Esculturas de Lama (2021). Nas obras, ele deixa a tinta sintética de lado para utilizar a têmpera, emulsão formada a partir da gema do ovo e pigmentos naturais, largamente utilizada na antiguidade e na arte italiana dos séculos XIV e XV.
Essa escolha, de acordo com a também artista Julia Cavazzini, que assina o texto crítico, pode ser mais bem compreendida a partir do desejo pela “transparência, toque e temporalidade de uma matéria viva”.
Também vale assinalar que, no conjunto, Pitarello alcança paragens muito distintas desde uma base comum: uma grade geométrica, na qual entrelaça figuras.
A partir dessa estrutura, o autor atinge diferentes diálogos. Pode chegar tanto a uma composição lúdica, que parece conversar de uma forma singular com obras da paulista Sandra Cinto, como há uma conversa com o bordado, a partir de linhas hesitantes, que trazem à mente o vai e vem da agulha e, lógico, a obra do cearense Leonilson (1957-1993).
É importante ainda pontuar que a geometria não engole o artista, ele a maneja, com destreza e uma certa dramaticidade. Em Golpe (2021; capa), que de perto não tem nada de certeiro, vemos o gesto repetitivo e paciente na construção dos retângulos, que flertam com a tecelagem e têm um quê de melancolia na sobreposição de camadas.
Galeria Pilar. Rua Barão de Tatuí, 377, Santa Cecília, 98423-4005. Terça a sexta, 11h às 18h; sábado 11h às 16h. Grátis. → No sábado, as visitas devem ser agendadas por telefone. Até 4 de dezembro.