O artista mexicano Bosco Sodi não é dado a muitas cerimônias. Em entrevista à VEJA São Paulo, sobre sua exposição Curved Surfaces, na Luciana Brito Galeria, ele foi logo soltando: “Não senta aí desse lado, nessas poltronas, tem muito mosquito”. Momentos depois, ele tentou capturar um pernilongo insistente no ar, sem sucesso.
Sua preocupação, pontual, talvez se relacione com as questões trabalhadas por ele em sua produção majoritariamente ligada à natureza. Por exemplo, punhadões de terra que coletou nos arredores da instituição cultural que ele mantém no México, a Casa Wabi, se transformaram em esferas de cerca de 50 centímetros. As peças não levam títulos e foram produzidas em 2021. E, a depender do lugar onde são colocadas, estabelecem diferentes relações.
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Na sede da Luciana Brito, uma casa de 1958 assinada por Rino Levi, são quase itens alienígenas dado seu caráter orgânico frente à certa assepsia e sobriedade do projeto arquitetônico. Sodi, que mora entre seu país natal, Estados Unidos e Espanha, também leva ao espaço expositivo outros trabalhos nascidos durante a pandemia, da série Sack Painting (2022).
Trata-se de sacos de juta que originalmente serviam para acondicionar verduras e pimentas no mercado. As peças ostentam sóis na cor preta, vermelha e laranja, pintados com tinta a óleo. Uma tentativa de alcançar um horizonte que oscilava e somente agora parece se abrir.
Luciana Brito Galeria. Avenida Nove de Julho, 5162, Jardim Europa, ☎ 3842-0634. Seg., 10h/16h; ter. a sex., 10h/19h; sáb., 11h/17h. Grátis. Até 14 de maio.
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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de abril de 2022, edição nº 2786