Felizmente, é impossível acreditar na palavra do Erick Jacquin. Na época da falência de seu restaurante, o La Brasserie, há mais de sete anos, ele disse que nunca mais voltaria ao ramo. Ao menos como patrão. Um terremoto de popularidade na vida do cozinheiro francês chamado MasterChef Brasil, reality da Band que estreou em 2014, mudou e muito seu expediente comercial. Depois de se descobrir um talento para a câmera como um jurado implacável, está se revelando um midas para novos negócios.
Além de dois restaurantes, o Président, nos Jardins, e o Ça-Va, na Bela Vista, mais a dark kitchen Jojo Gastrô (para delivery), também nos Jardins, ele é a imagem de um grupo que se prepara para inaugurar três casas. Vêm aí o restaurante italiano Lvtetia, o Buteco do Jacquin, no Espaço Helbor, e o Ça-Va Café, no térreo de um edifício residencial da mesma incorporadora Helbor. É pouco? Está também em tratativas para a compra de mais uma casa, cujo nome ainda faz mistério.
Afora o reality de TV que o projetou — desde então, o chef já engatou mais dois programas, dá consultorias, palestras e faz comerciais via Instagram para várias marcas, incluindo aí uma de comida para animais de estimação e, nesta semana, a rede McDonald’s —, ele conta com uma parceria para os negócios gastronômicos: o empresário Orlando Cesar Leone e a esposa, Silvinha.
“O Orlando passou de cliente a investidor”, conta o cozinheiro. “Meu medo era não dar certo, porque nós dois temos personalidades fortes.” O compromisso entre eles é que cada um cuide de sua especialidade, um na cozinha e outro na administração. “Já tive vontade de matar o Jacquin algumas vezes”, brincou quase gargalhando Leone, durante a entrevista com a dupla no terraço do restaurante Badebec, no ponto do extinto Marcel, vizinho ao Président.
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Neófito no mundo da gastronomia, Leone dedicava-se integralmente aos grupos Montanna e Monte Leone, que inclui uma distribuidora de peças e concessionárias Honda. “Sou presidente da Anfamoto, a Associação Nacional dos Fabricantes e Atacadistas de Motopeças. Não conhecia nada de gastronomia. Mas é apaixonante”, garante.
O vistoso Président, com fachada e interior em um vermelho luminoso, foi oficialmente inaugurado em dezembro de 2019. “Foram três anos até que o Président ficasse pronto. A Rosângela, minha mulher e sócia do negócio, não queria ter mais um restaurante. Ela dizia: ‘A gente vai começar uma história que não vamos terminar’. Hoje, ela é minha patroa”, revela Jacquin. Faz sentido a apreensão depois dos reveses anteriores. Logo em seguida à abertura no fim do ano retrasado, a casa de alta gastronomia teve seu funcionamento interrompido pelo surto mundial da Covid-19, como aconteceu com todo o segmento.
O contratempo não tirou o senso de oportunidade de expansão dos sócios. Em novembro de 2020, quando São Paulo experimentou uma melhora durante a pandemia, chegando à fase verde, foi anunciada a compra do Ça-Va, bistrozinho charmoso que estava com os dias contados após a morte de seu antigo proprietário. “Os filhos iam fechar o restaurante, que está na mais recente temporada de Pesadelo na Cozinha (outro reality de sucesso estrelado pelo chef). Assumimos o imóvel, indenizamos os funcionários e fizemos a reforma”, diz Jacquin.
Avesso a falar sobre números e dono do bordão “Investimos o valor de mercado”, Leone deixa escapar um deles: “Para ficar com o Ça-Va, gastamos cerca de 600 000 reais”. Entre os aprimoramentos recentes, está um fogão novinho em folha que acaba de chegar ao bistrô. Na mesma quadra e a dois passos do Président, o Lvtetia, o nome original de Paris em latim, é a primeira investida em uma culinária das mais amadas pelos paulistanos: a italiana.
O espaço grandioso, com antigas árvores num terraço aos fundos, será, digamos, pomposo como demonstram as projeções em 3D do arquiteto Adriano Mariutti. “A intenção era abrir em julho, mas devemos estar com tudo pronto só em agosto”, acredita o cozinheiro. Embora Leone assegure que convenceu Jacquin a fazer um menu franco-italiano, Jacquin rebate na lata. “Eu que decido. Será italiano. Acho que nem vinho francês vai ter”, esbraveja.
O chef com apetite para negócios também está metido no Espaço Helbor, previsto para ocupar por três anos o antigo prédio do Octavio Café, cafeteria fechada em julho de 2020 por Rodrigo Quercia, CEO do Grupo SolPanamby, filho do ex-governador Orestes Quércia (1938-2010) e responsável por administrar os muitos negócios da família — depois desse prazo de validade, a monumental edificação, projetada pelo escritório Seragini Farné Guardado Design, deve vir abaixo para dar lugar a apartamentos de alto padrão.
Enquanto permanece de pé e com curadoria do construtor Beto Saad, vai sediar uma Casa do Saber do empresário, uma área para exposição de arte, uma concessionária de carros de luxo, uma adega com rótulos de seis importadoras e uma filial do Esch Café para charuteiros, além da sede do Buteco do Jacquin. “Vou aproveitar a cozinha, que é ótima”, elogia o chef. No cardápio, haverá de itens do café da manhã, como croissants e bolos, a pratos, caso de um par de massas e feijoada.
Ainda com a Helbor, está em curso outra parceria para ocupar parte do térreo do edifício residencial Wide, no número 2636 da Avenida Rebouças. “No prédio, com mais de 200 unidades e um complexo com salas do Cinemark, devemos ter nosso primeiro Ça-Va Café, bem pequeno. Ainda não fechamos esse formato”, antecipa Leone. Haja fôlego para tanta expansão.
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