Nos shows atuais das provas de Fórmula 1 pela TV, os narradores contam com uma parafernália eletrônica para informar o que está ocorrendo na pista. Eles conseguem ver detalhes das ultrapassagens com a ajuda das microcâmeras carregadas pelos carros e ouvir até o que os pilotos conversam com os engenheiros durante aprova. Em 1949, ano da primeira transmissão ao vivo de uma corrida internacional para o Brasil, as condições eram muito diferentes.
No GP de Bari, na Itália, o locutor escalado para a missão pioneira perdeu o contato com sua base, a Rádio Panamericana (a Jovem Pan), em São Paulo, e ficou quatro horas pendurado no microfone descrevendo os acontecimentos no autódromo, sem ter certeza de que sua voz estava sendo ouvida. Só ficou sabendo do sucesso da empreitada no fim do evento, quando recebeu um telegrama de Paulo Machado de Carvalho, dono da emissora, felicitando-o pelo trabalho.
Por essa e outras façanhas, Wilson Fittipaldi, também conhecido como Barão, foi uma das figuras mais importantes da história do automobilismo nacional. Equilibrando precisão técnica e emoção na voz, acompanhou o esporte por quatro décadas e ajudou a modalidade a se popularizar por aqui.
Ele convenceu a Rádio Panamericana a investir na cobertura pioneira para pegar carona na ascensão no circuito do talento do brasileiro Chico Landi, o primeiro grande astro nacionaldas pistas. No fim da década de 40, Landi corria pela Ferrari, que não passava naquele tempo de “uma grande garagem, dividida em dois pavilhões”, na definição do Barão.
Em outra transmissão histórica, Wilson Fittipaldi registrou o primeiro título de F1 de um piloto nacional. No caso, justamente o de seu filho Emerson, com a famosa Lotus negra construída por Colin Chapman. “Venceu o Brasil, minha gente!”, exultavao Barão ao final do GP da Itália de 1972.
A princípio receoso de ver os herdeiros competindo nas pistas, o locutor acabou cedendo e virou um dos maiores incentivadores da carreira deles. Primeiro, apoiando o primogênito, Wilson Fittipaldi Júnior. “A paixão e a dedicação de meu pai a esse negócio levaram involuntariamente a mim e meu irmão para o automobilismo”, conta Wilsinho.
Depois de vibrar com as glórias do caçula, Emerson (que se sagraria bicampeão mundial de F1 em1974), acompanhou ainda de perto as peripécias do neto Christian nos bólidos e, mais recentemente, os primeiros passos no mundo das corridas do bisneto, Pietro.
O entusiasmo do Barão pelo universo da velocidade o levou a se engajar na organização do esporte. Nesse campo, sua contribuição foi também importante. Na década de 50, ajudou a fundar a Confederação Brasileira de Automobilismo e a criar a provadas Mil Milhas, uma das mais tradicionais do país, que é disputada até hoje.
Wilson Fittipaldi estava internado no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, quando morreu em decorrênciade problemas respiratórios, na madrugada da última segunda (11). Foi enterrado no dia seguinte no Cemitério da Paz, no Morumbi. “Guardo de meu pai a imagem em que ele aparece montado em uma moto BMW 500, em 1952, competindo em um circuito de 24 horas com um radiotransmissor preso ao pescoço, narrando sua própria corrida”, lembra Emerson. “Naquele dia, ele sofreu um grande acidente e ficou três meses machucado. Essa história de dedicação fez com que, a partir disso, eu adotasseo número 7 nos meus carros, o mesmo daquela moto.”