Vai aí uma boa resolução de fim de ano: fazer mais o bem. As instituições filantrópicas da capital buscam dinheiro e doações de materiais, mas também algo que você pode dar de graça: seu tempo, seu talento e seu suor. Trata-se de um tipo de envolvimento que costuma mudar e aprofundar a visão das causas que cada um se dispõe a ajudar. “Além de oferecer só a cesta de fim de ano, por exemplo, vale perguntar como auxiliar em outras épocas”, afirma Marcelo Estraviz, do Instituto Doar, que elabora uma lista das melhores ONGs do país de acordo com critérios como gestão e transparência.
Não faltam opções para pôr a mão na massa. Em um universo tão vasto, há complicações como entidades desorganizadas, com falta de treinamento ou muita burocracia. Por isso, selecionamos a seguir iniciativas bacanas e descomplicadas para ocupar seu tempo de maneira positiva em 2019. Vale lembrar que, para a parceria funcionar, o compromisso com o trabalho é fundamental. Trazemos sugestões diversas para quem procura dar suporte a animais, crianças, idosos, moradores de rua… Confira.
Quase uma família
Em 2005, quatro psicólogas fundaram o Instituto Fazendo História, que atende crianças e adolescentes que vivem em sessenta abrigos da cidade, pois não possuem famílias capazes de acolhê-los no momento. O programa mais concorrido leva voluntários semanalmente para ler livros para os pequenos e montar um álbum com fotos e relatos; assim eles podem guardar memórias de sua infância. Também é possível apadrinhar adolescentes com pouca chance de adoção. Em encontros quinzenais, a ideia é ajudá-los a planejar e conhecer a vida fora do abrigo. “Fazemos um treinamento intenso antes de a relação com a garotada começar. Nele deixamos clara a necessidade de comprometimento e preparamos a pessoa para situações em que o jovem ou a criança não responde do jeito esperado”, diz Isabel Penteado, diretora executiva do projeto. No programa mais complexo do coletivo, bebês até 3 anos ficam em casas de voluntários treinados até a reestruturação da família biológica. O casal formado pelos economistas Lumena e Ronaldo Mariconi, que moram no Butantã, está em sua terceira experiência do tipo, desta vez com um menininho de 2 meses. fazendohistoria.org.br.
Atenção aos “invisíveis”
Uma vez por mês, um grupo de cerca de 120 pessoas se reúne para rodar de carro por nove rotas da capital, que cobrem da Zona Leste à Zona Sul. A proposta do Entrega por SP é bem simples: conversar com moradores de rua no caminho. Para o papo rolar com mais facilidade, cada voluntário carrega um kit de presentes com escova e pasta de dentes, garrafa d’água, par de meias, sabonete, sanduíche, bolachas, roupas e cobertores. O projeto, que começou em 2013, após um estudante ficar sabendo de mortes por causa do frio na rua, sustenta- se hoje com doações e uma equipe comprometida. As saídas para as ações costumam ocorrer à noite na Praça Horácio Sabino, na região do Sumaré, onde os filantropos iniciam os trabalhos ao montar mais de 1 000 estojos. Menores de 18 anos só conseguem participar dessa etapa, pois o roteiro pode tomar toda a madrugada. “Os moradores de rua reclamam de que se sentem invisíveis, então a gente tenta mostrar que eles não são. Nós nos sentamos no chão e a conversa dura bastante ou é mais rapidinha”, explica Mariana Centini, uma das coordenadoras do movimento. entregaporsp.com.br.
Mão na massa (e no martelo)
Desde que desembarcou por aqui, em 2007, a organização chilena Teto caiu no gosto de estudantes paulistanos. O objetivo da entidade de superar a pobreza foi estabelecido em 1997, após um padre jesuíta mobilizar pessoas para reconstruir uma vila afetada por um terremoto. Presente em cinco estados do Brasil e com mais de 900 voluntários fixos, a iniciativa realiza por ano cerca de oito ações na capital (com vagas esgotadas em meros cinco minutos). Em um dos programas, leva 300 interessados em erguer — com muito suor e sem medo de se sujar — quarenta residências de madeira em algumas das 25 comunidades atendidas, como Vila Nova Esperança e Jardim Palanque. O pessoal pega firme no martelo e em outras ferramentas e chega a dormir em escolas públicas da região. Em compensação, conhece as famílias beneficiadas e vê na hora a satisfação do lar novo em folha. “Vamos a lugares onde a pobreza é muito nítida. Não há saneamento básico, eletricidade nem água potável”, diz Nina Scheliga, 29, diretora do programa. “Também trabalhamos ao longo do ano para beneficiar o entorno, com planos de melhorar o conjunto.” techo.org.
Do cão ao sagui
A Ampara Animal alcançou o status de uma das principais entidades de proteção aos bichos, domésticos e silvestres, no país. Queridinho de famosos, o coletivo não tem abrigo, mas ajuda dezenas de organizações e protetores cadastrados, distribuindo ração e medicamentos. A equipe, formada principalmente por mulheres e presidida por Juliana Camargo (foto), coordena eventos de adoção, atrações beneficentes, campanhas de conscientização e mutirões de castração e vacinação (dispõe, inclusive, de um ônibus adaptado para isso). Pelas contas dos organizadores, em oito anos de atividade, mais de 1 milhão de bichos foram beneficiados. Para dar uma força ao trabalho, os interessados se engajam de diversas maneiras, ao participar de bazares, envolver-se em iniciativas de divulgação, adotar ou apadrinhar um pet ou mesmo dar a ele lar temporário até que role uma adoção definitiva. amparanimal.org.br.
Bem me quer
De casamento a formatura, as flores utilizadas em festas vão para o lixo quando as luzes se apagam. Ao presenciar essa situação constantemente, a florista Helena Lunardelli decidiu, em 2010, dar um fim menos trágico a esses arranjos. Reuniu em seu ateliê amigos e funcionários para montar buquês e sair presenteando idosos em casas de repouso. Ali nascia o projeto Flor Gentil. Oito anos depois, quase todo domingo e segunda, a ONG recebe cerca de setenta pessoas dispostas a ajudar na locomoção, triagem e entrega dos arranjos. Hoje, além dos velhinhos, as folhagens alegram eventos beneficentes e são doadas a pessoas na vizinhança da sede, na Vila Madalena. “Não recebemos flores de eventos tristes, como velórios. Elas duram menos, e também tem a questão da energia que carregam”, explica Cecília Maia, responsável atualmente pela operação do projeto. “Ao todo, presenteamos 600 pessoas por semana, principalmente em casas de repouso.” Semanalmente há uma palestra para voluntários novos, na qual se aprende a montagem dos buquês e são dadas dicas como a de não usar nada com aparência de fruta, para os idosos não colocarem na boca. florgentil.com.br.
Acolhida aos LGBTs
O jornalista Iran Giusti, 29, abriu as portas de seu apartamento em 2015 para abrigar desconhecidos que foram expulsos de casa por causa da sua orientação sexual. A notícia se espalhou e, em menos de dois dias, o rapaz recebeu mais de cinquenta pedidos de ajuda. Para tentar atender à alta demanda, inaugurou em janeiro de 2017 a Casa1, um espaço de acolhimento na Bela Vista, além de um centro cultural onde se tem acesso a uma biblioteca comunitária, aulas de línguas, curso de costura e atendimento psicológico grátis. O projeto só saiu do papel graças às doações a uma vaquinha virtual criada pelo ativista, que arrecadou 112 000 reais. Na residência moram atualmente vinte pessoas, que permanecem por no máximo quatro meses. “Aqui é um endereço de passagem”, explica Giusti. Ao longo do ano, mais de 250 voluntários, entre eles muitos professores, mantêm tudo funcionando, arrecadam dinheiro e organizam eventos, como um casamento coletivo de 38 casais LGBTs, que ocorreu no último dia 15. casaum.org.
A luta contra o plástico
Em 2008, quando ainda era universitário, o biólogo marinho William Schepis decidiu criar um instituto contra a poluição ambiental, com foco em áreas de mangue e praias do litoral paulista. Desde então, o EcoFaxina reúne uma vez por mês mais de trinta voluntários. Ao longo do dia, munidos de botas e luvas, eles recolhem dejetos na lama ou na areia. “Hoje, fala-se muito do canudinho, do absorvente, mas temos problemas maiores que muita gente desconhece”, acredita Schepis. Na Baixada Santista, por exemplo, as favelas de palafitas nas zonas de mangue usam a maré como uma espécie de coleta de lixo. “O que passamos o dia limpando, eles jogam de novo na água em duas horas”, lamenta. Em 98 ações, o grupo coletou 52 000 quilos de resíduos, a maioria de lixo domiciliar, como garrafas PET, embalagens de margarina e fraldas. institutoecofaxina.org.br.
Deu match na causa
Alguns sites andam facilitando a conexão entre as entidades e os voluntários. Uma ONG que resgata gatinhos precisa de um designer para a arte de sua próxima campanha de adoção? A vaga está listada em uma dessas plataformas virtuais. Outro grupo que trabalha com adolescentes carentes busca orientação jurídica? É só se inscrever numa delas. Dá para filtrar por causa, habilidade, endereço, tempo disponível… No Atados, por exemplo, já foram publicadas mais de 4 000 vagas de 1 500 instituições. A ONG, que começou seis anos atrás com apenas 150 projetos, hoje oferece até cursos voltados para a gestão de voluntários. Além disso, mobiliza eventos, como a Copa do Mundo dos Refugiados. “Somos procurados por empresas para elaborar projetos de voluntariado para seus funcionários”, afirma Daniel Morais, um dos criadores do site. atados.com.br.