Se virasse filme, o trânsito paulistano teria um protagonista: o carro. Afinal, os milhões de automóveis registrados na cidade tomam conta das ruas e, apesar dos quilômetros de lentidão, têm uma metrópole pensada para eles.
E o antagonista, quem seria? Os 200.000 motoboys (a frota oficial de motos é de 880.000), apressados, costurando entre as faixas e buzinando sem parar? Ou os 190.000 caminhoneiros que circulam por aqui diariamente, com seus veículos lentos e gigantes?
“Nenhum dos dois é vilão”, afirma Luiz Célio Bottura, consultor de engenharia urbana. “Imagine, por exemplo, se todas as motos fossem substituídas por carros. A frota aumentaria muito.”
Infelizmente, nesse enredo também não há mocinhos. Irresponsável, boa parte dos motociclistas põe em risco sua segurança e a de outros motoristas e pedestres. “Muitos dirigem perigosamente e não respeitam o código de trânsito”, ressalta Horácio Augusto Figueira, consultor em engenharia de tráfego. “Trata-se de um problema de educação e conscientização.”
Candidatos ao papel de vilões, os caminhões vêm sofrendo uma reviravolta na trama. A proibição da circulação dos gigantes nas avenidas Bandeirantes e Jornalista Roberto Marinho, entre outras, das 5 às 21 horas, foi comemorada por muitos condutores de carros, mas tem ressalvas de especialistas.
A avaliação é que, quando se tira um caminhão das vias da cidade, as empresas de entrega podem substituí-lo por dois, três ou até quatro veículos menores para continuar trabalhando. Mas os caminhões são mesmo um problemão no trânsito: apesar de representarem só 3% da frota paulistana, eles contribuem para 35% dos congestionamentos.