Com 55 vereadores e orçamento de 310 milhões de reais, a Câmara Municipal de São Paulo é a maior do país. As funções de seus integrantes são importantíssimas: fiscalizar os atos do Executivo e aprovar leis que ajudem a melhorar o dia a dia dos paulistanos. Mas, como o parlamento municipal é o primeiro estágio de qualquer carreira política, muitos sonham com voos mais altos. Na última quarta (23), o vereador campeão de votos da última eleição, o escritor e professor universitário Gabriel Chalita, anunciou que estava deixando o PSDB para se filiar ao PSB. Eleito em outubro passado com 102.000 votos, o afilhado político de Geraldo Alckmin sentia-se isolado dentro do partido por ter apoiado o ex-governador na disputa à prefeitura contra Gilberto Kassab (DEM). Com receio de ver estagnada a sua carreira política, quer concorrer ao Senado. “Mudo de legenda em busca de espaço adequado, que não encontro na atual, para lutar pelas propostas em que acredito”, disse Chalita, em nota oficial. Assim como ele, pelo menos mais dezesseis vereadores tentarão outros cargos no ano que vem. Teoricamente, a campanha só começa quatro meses antes do pleito. Na prática, no entanto, a movimentação de Chalita deu início à corrida eleitoral.
Historicamente, a maior parte dos vereadores saem em campanha para a Assembleia Legislativa, onde cada deputado recebe salário de 12.300 reais, mais 19.812 reais mensais em verbas de gabinete. “É como subir um degrau na carreira”, afirma Jooji Hato (PMDB), o vereador há mais tempo na Câmara Municipal, com sete mandatos consecutivos. “Já concorri quatro vezes a deputado federal e uma a senador, mas perdi em todas”, lembra. As tentativas frustradas de Hato mostram que muitos candidatam-se mesmo sem acreditar que têm chances de ganhar a eleição. Ocupam espaço no horário eleitoral gratuito e fazem corpo a corpo com os eleitores. No mínimo, isso serve para mantê-los na mídia.
Netinho de Paula: lideranças do PCdoB acreditam que programa de tv pode alavancar votação
Há aqueles que são orientados a concorrer com o objetivo de tentar aumentar a representatividade de seus partidos nos legislativos estadual e federal. A ideia é que quem teve votação expressiva na eleição para o parlamento municipal pode repetir o bom desempenho ao disputar cargos mais elevados. No PSDB, dono da maior bancada da Câmara, com treze integrantes, pelo menos seis vereadores devem sair em campanha: Adolfo Quintas, Carlos Bezerra Jr., Dalton Silvano, Mara Gabrilli, Ricardo Teixeira e Souza Santos. Com a ida de Chalita para o PSB, espera-se que a vereadora desempenhe o papel de puxadora de votos para a legenda. O exemplo mais célebre do que um bom puxador de votos pode fazer por seu partido é o caso de Enéas Carneiro, do Prona, que morreu em 2007. Na eleição de 2002, ele recebeu 1,5 milhão de votos. Com isso, não só elegeu-se deputado federal como garantiu mandatos para outros cinco candidatos de seu partido — inclusive para um que havia obtido míseros 238 votos.
Vários vereadores estreantes, que ocupam o cargo há apenas nove meses, já pensam em bater asas. É o caso de José Luiz Penna, presidente do PV. “Estou adorando ser vereador, mas para fortalecer meu partido em Brasília, vou sair candidato a deputado federal”, diz. O cantor e apresentador de TV Netinho de Paula (PC do B) é outro que não quer esquentar sua cadeira. Seu partido, que tem apenas dois representantes na Casa, planeja lançá-lo candidato ao Senado ou à Câmara Federal. Empolgado, Netinho revela planos um tanto delirantes: “Meu sonho mesmo é ser presidente da República.”
No PT, que atualmente conta com sete vereadores, são dadas como certas as candidaturas de João Antonio, Chico Macena e Francisco Chagas. “Estou em meu terceiro mandato como vereador e acho que já tenho experiência política suficiente para ser deputado”, afirma o líder da legenda, João Antonio. Na opinião do cientista político Gilberto de Palma, diretor do Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, o fato de dezessete vereadores estarem dispostos a abandonar o mandato é condenável. “O eleitor, que imaginava ter escolhido seu representante para os próximos quatro anos, se sente traído”, diz. “É como uma quebra de contrato.”