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13. Mário e Oswald de Andrade: destaques da Semana de Arte Moderna

Nunca antes, e nunca depois, a cidade reuniu um grupo de jovens capaz de fazer tanto barulho

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h31 - Publicado em 22 out 2010, 21h50
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    Como dizia o refrão do saudoso cronista social, não convidem para a mesma mesa Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Tem gente que os supõe irmãos. Não tinham nenhum parentesco. Outros os imaginam cada um a metade de um mesmo todo. Foram durante uns poucos anos, logo tomaram rumos diversos. Pelo menos, defenderão terceiros, foram amigos. O período de amizade foi menor do que o da inimizade. Escreveu Mário de Andrade, em 1933, numa carta a Manuel Bandeira, que odiava Oswald tão “friamente”, tão “organizadamente”, que não lhe ofereceria “um pau à mão, pra que ele se salvasse de afogar”.

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    Mário (1893-1945) e Oswald (1890-1954) foram os mais destacados participantes da famosa Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal em fevereiro de 1922. Nesse tempo, a parceria funcionou como a alavanca que jogou São Paulo, a São Paulo ainda provinciana, mas crepitante de uma riqueza que do café se desdobrava em centro industrial, para o centro da renovação artística e cultural do país. Nunca antes, e nunca depois, a cidade reuniu um grupo de jovens capaz de fazer tanto barulho. Com suas inovações estéticas, Mário e Oswald são os porta-estandartes de outra espécie de emancipação paulista, depois da econômica: a emancipação cultural.

    Os temperamentos eram diferentes. Mário, se teve uma fase iconoclasta nos tempos da Semana, evoluiu para tornar-se a figura seminal que, com seus ensaios, críticas e, principalmente, as cartas que generosamente escrevia a interlocutores disseminados pelo Brasil afora, serviria de ponto de referência a mais de uma geração de escritores brasileiros. Oswald foi iconoclasta a vida inteira, e ao iconoclasta acrescentava uma porção bufão, tanto nos movimentos literários que fundava (Pau-Brasil, Antropofagia) quanto numa vida pessoal em que ia trocando de mulher como só em Hollywood, nesse tempo, e mesmo depois, se ousava fazer. Os dois tiveram em comum o fato de cantarem insistentemente a cidade natal, no momento mesmo em que, entre o susto, a ironia e o deslumbramento, a imaginavam disparando rumo ao futuro.

    Oswald:

    ‘A felicidade anda a pé

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    Na Praça Antônio Prado

    São 10 horas azuis

    O café vai alto como a manhã de arranha-céus’

    (Poema ‘Aperitivo’)

    Mário:

    ‘Guardate! Aos aplausos do esfuziante clown,

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    heroico sucessor da raça heril dos bandeirantes,

    passa galhardo um filho de imigrante,

    loiramente domando um automóvel!’

    (Poema ‘O Domador’)

    Oswald:

    ‘Tome este automóvel

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    E vá ver o Jardim New-Garden

    Depois volte à rua da Boa Vista

    Compre o seu lote

    Registre a escritura

    Boa firme e valiosa

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    E more nesse bairro romântico

    Equivalente ao célebre

    Bois de Boulogne

    Prestações mensais sem juros’

    (Poema ‘Ideal Bandeirante’)

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    Mário:

    ‘Minha Londres de neblinas finas!

    Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas.

    Há neve de perfumes no ar.

    Faz frio, muito frio…

    E a ironia das pernas das costureirinhas

    parecidas com bailarinas…’

    (Poema ‘Paisagem Nº 1’)

    Oswald:

    ‘Arranha-céus

    Fordes

    Viadutos

    Um cheiro de café

    No silêncio emoldurado’

    (Poema ‘Atelier’)

    Mário:

    ‘São Paulo! comoção de minha vida…’

    (Poema ‘Inspiração’)

    Brincadeiras ferinas e provocações de Oswald causaram o rompimento entre os dois Andrade, em 1928. Une-os hoje o solo hospitaleiro do Cemitério da Consolação.

     

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