A pedagoga e mestre em educação Jaqueline Conceição, de 28 anos, tem apenas uma palavra para definir os últimos dias: loucura. Primeiro porque ela foi selecionada para apresentar seu trabalho em uma das universidades mais prestigiadas do mundo, a Columbia, de Nova York. Depois, porque ao saber que ela estava fazendo uma vaquinha para bancar a passagem, um de seus maiores ídolos, a funkeira Valesca Popuzuda, ofereceu-se para pagar parte do valor. “É uma junção de loucuras, ir pra Nova York, apresentar em Columbia e conhecer a Valesca, uma pessoa por quem tenho uma admiração muito grande”, explica.
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Jaqueline é professora de uma escola estadual em Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, e trabalha em um projeto de formação de leitores. Ela terminou o mestrado em educação com foco em história, política e sociedade pela PUC São Paulo em abril. Para o seminário de Columbia, o artigo “Só Mina Cruel – Algumas Reflexões Sobre Gênero e Cultura Afirmativa no Universo Juvenil do Funk” foi selecionado. “É um trabalho que analisa a narrativa do funk e como ele objetifica os gêneros.”
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Como não tinha o dinheiro suficiente para pagar a passagem para Nova York, Jaqueline resolveu fazer uma vaquinha on-line. Até esta quarta-feira (30), ela havia conseguido aproximadamente 2 300 reais, dos 3 700 necessários para bancar passagem, hospedagem, transporte e alimentação em Nova York. Jaqueline foi informada, no entanto, que Valesca Popozuda, uma das artistas analisadas no artigo, havia se comprometido a pagar metade da viagem. “Agora eu quero conhecê-la, sou fã, vai ser extasiante.”
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Essa não é a primeira vez que a funkeira vira tema de um trabalho acadêmico no Brasil. No ano passado, uma aluna da Universidade Federal Fluminense ficou em 2º lugar na seleção do mestrado com um projeto sobre Valesca. Em abril deste ano, um professor de Brasília definiu a cantora como uma “grande pensadora” em uma prova de filosofia. “Ela intimida por ser uma mulher que afirma e legitima sua sexualidade. Acho a Valesca uma pensadora sim, porque ela leva um incômodo à realidade. Ela abre um debate que muitos filósofos da academia não conseguem fazer”, defende Jaqueline.