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Motoristas do Uber reclamam de queda nos ganhos

Protesto de condutores na última segunda (28) evidencia problemas do aplicativo

Por Bárbara öberg
Atualizado em 1 jun 2017, 16h15 - Publicado em 2 abr 2016, 00h00
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  • Com um Azera preto, da Hyundai, Douglas Marchi ingressou, em julho de 2014, no aplicativo mais falado da cidade. Logo se tornou um dos grandes entusiastas do Uber, empresa que conecta motoristas particulares a passageiros.

    + Saiba qual a nota que os motoristas do Uber deram pra você

    Inscrito na modalidade “black”, de automóveis de categoria superior, conseguiu lucro de 10 000 reais por mês e decidiu aumentar a aposta. Comprou, por meio de financiamentos, um Kia Cadenza e um Hyundai Vera Cruz, e contratou profissionais para pilotá-los. No auge, chegou a embolsar 16 000 reais com a frota. Na virada do ano, porém, pôs os veículos à venda e desligou-se da plataforma. “Meu rendimento líquido estava em 2 000 reais, não valia a pena”, justifica. Atualmente, ele ganha a vida administrando um estacionamento e um restaurante.

    Pessoas igualmente decepcionadas com o negócio estavam entre os adeptos de uma paralisação ocorrida na cidade na última segunda, 28, contra a ferramenta de transportes. Chamado de “Dia Negro”, o movimento divulgava um texto atraindo a atenção para a situação crítica dos profissionais: “É só um dia de folga, em que você vai deixar de trabalhar catorze horas para obter 100, 150, quiçá 200 reais, se der muita sorte”.

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    A manifestação reuniu cerca de trinta carros na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu (um inibidor claro é a proibição de criticar o serviço em público, prevista em contrato). Foi, portanto, bem menor que os protestos dos taxistas contra o Uber no ano passado, época em que a Câmara Municipal discutia a legalização por aqui da companhia. O ato, porém, serviu para evidenciar alguns problemas pouco conhecidos.

    Entre os cerca de trinta motoristas ouvidos pela reportagem de VEJA SÃO PAULO na semana passada, a maioria tem queixas sobre o faturamento e a respeito de uma série de mudanças recentes realizadas pela empresa, como o fim da política de bônus por bom desempenho. A queda de receita está diretamente ligada à explosão no número de condutores, que, entre novembro e o início deste ano, passou de 3 500 para mais de 10 000 na metrópole, segundo estimativas do setor (informação que a companhia não confirma).

    Uber - Douglas Marchi
    Uber – Douglas Marchi ()
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    Isso, claro, é excelente para o usuário, que vê automóveis chegar mais rápido e se espalhar pela capital. Por outro lado, os motoristas sofreram o impacto e, ironia das ironias, começaram a imitar seus críticos, os taxistas, fazendo discursos ferozes para defender a limitação do número de concorrentes. Outro ponto positivo para os consumidores que causou irritação no setor envolveu a redução das tarifas em 15%, no fim de 2015.

    As críticas chegam justamente no período em que a companhia conseguiu superar seu principal problema na cidade: a legalização do serviço. Por meio de uma liminar na Justiça, em fevereiro, garantiu o trabalho da plataforma. Na Câmara e na prefeitura, avança a ideia de criar, enfim, uma regulamentação municipal para a atividade.

    Ao longo de seus primeiros meses, a empresa tornou-se uma grande esperança em época de demissões em massa na capital. Dados obtidos por VEJA SÃO PAULO em novembro mostravam que 30% tinham aderido ao software depois de ser demitidos. Muitos dos que investiram o dinheiro de sua rescisão em um veículo novo, no entanto, quebraram a cara. “Apostei todas as minhas fichas nesse negócio, tenho dois financiamentos rolando e, agora, atuo mais horas para ganhar menos”, diz o ex-taxista Amauri Pereira.

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    O Uber contesta esse quadro. Por meio de notas, informa que a redução nos preços causou um aumento da demanda e mais viagens aos associados. A medida, segundo a empresa, proporciona “tanta renda quanto antes” porque os motoristas podem ficar “menos tempo rodando” entre um trajeto e outro.

    Para os usuários, a queda na qualidade do serviço é visível. Dos 53 trechos percorridos pela reportagem de VEJA SÃO PAULO neste ano, houve problemas em cerca de 20%. Alguns veículos apresentavam mau cheiro e não primavam pela limpeza. Em metade das viagens, o freguês não era consultado sobre a conveniência de ligar o ar-condicionado. Alguns dos condutores insistiam com o passageiro que precisavam da nota máxima, de cinco estrelas, argumentando que poderiam ser suspensos se obtivessem conceitos baixos. Ou seja, tentavam interferir em um recurso garantidor de qualidade, construída à base de gentileza, eficiência e cortesias, como água gelada e guloseimas, que, aliás, andam mais raras.

    No site Reclame Aqui, há 2 424 registros negativos contra o aplicativo. A título de comparação, o mesmo endereço acumula 979 queixas relacionadas ao 99Taxis, que tem cadastrados 37 000 taxistas na cidade. Ou seja, mesmo com quase um quarto dessa frota, o Uber apresenta uma quantidade 2,5 vezes maior de reclamações dos passageiros.

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