Tudo começou em 2002 como uma simples festa de aniversário do então jornalista Eneas Neto. DJ desde os 16 anos, ele completou 35 anos no dia 30 de abril daquele ano e, para comemorar, decidiu alugar o Hotel Cambridge, que ocasionalmente virava palco de baladas. Com repertório baseado em música eletrônica, Eneas e o DJ Tonyy (seu parceiro na organização) decidiram inovar e partir para um lado mais pop da década de 80. A festa, apenas para amigos, reuniu cerca de 300 pessoas. E foi assim que, há dez anos, surgia a Trash 80’s.
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A primeira edição fez tanto sucesso que empresário Francisco Mafra, responsável pelo aluguel do hotel, pediu para que ela se tornasse recorrente. Desde aquela época, a Trash se mudou para o clube Caravaggio — vizinho da frente do Cambridge — e chegou até a ter uma edição fixa na Vila Olímpia, que parou no segundo semestre do ano passado e agora deve se instalar em Pinheiros ou no Itaim. Nesse período, também houve festas alternativas como a SuperTrash, no Vegas, um cruzeiro e até edições internacionais em Barcelona e Xangai.
Apesar de ter crescido, a balada mantém um ambiente familiar. “Parece um encontro de amigos, no quintal da casa de alguém”, conta a fotógrafa Adriana Spaca, 37 anos, que conheceu seu marido, Luciano Bianchi, na própria Trash. Desde o começo da festa, foi criado um grupo de discussão na internet no qual os frequentadores comentavam e davam sugestões. Foi nesse espaço que Adriana descobriu o interesse de Bianchi, que jura ter sido ignorado várias vezes por ela na pista. Seis meses depois, Adriana estava grávida de Maria Clara, apadrinhada por Eneas. A menina, aliás, nasceu quase com um pé na pista dos anos 80. “Na véspera do parto eu estava na porta, morrendo de rir com o Evandro Santo.”
O humorista, hoje conhecido pelo personagem Christian Pior, no “Pânico”, foi uma das atrações da noitada entre 2004 e 2008. Hostess às sextas, Evandro incorporava Janeyde, uma drag queen que ele descreve como “brega queen”. “Comia salsicha e tomava champanhe enquanto recebia os convidados”, lembra. A inspiração vinha de personagens como Tina Pepper, que Regina Casé interpretou na novela “Cambalacho”, e Rambo, de Sylvester Stallone. “Foi um dos períodos mais criativos da minha vida.”
Pela pista da Trash passaram muitas celebridades. Entre os momentos mais marcantes, estão um show que Sidney Magal, um dos ícones do repertório, fez em 2005 como aquecimento para a Parada Gay e uma performance espontânea do estilista Ronaldo Ésper, em 2008, quando ele fez um strip-tease completo. “Foi um rebuliço”, conta Eneas.
O ambiente descontraído é um dos responsáveis por manifestações desse tipo. “Nosso lema é não cobrar nada de ninguém. Preconceito não entra”, afirma o dono da festa. De fato, há momentos que poderiam até ser vexatórios, mas que ficam divertidos por causa do comprometimento do público. Um exemplo são os tradicionais passos de dança, inventados para algumas das músicas mais tocadas — uma espécie de tradução gestual dos hits. “É claro que as músicas empolgam, mas são as pessoas que fazem a festa”, comenta Eneas.