Entregue no último sábado (16) em evento que contou com a presença do prefeito João Doria, a mais recente obra no Largo da Batata, em Pinheiros, apresenta diversas falhas.
Apesar de a gestão municipal anunciar que o espaço foi “totalmente revitalizado”, VEJA SÃO PAULO esteve no espaço na segunda-feira (18) e encontrou calçadas com buracos e bancos quebrados.
Nem a “árvore digital”, que utiliza energia solar para carregar telefones celulares, funcionava direito – uma das três tomadas estava quebrada.
“O que estamos promovendo aqui é o resgate do Largo da Batata. O resgate da democracia e da ocupação deste espaço, que pertence ao povo da cidade de São Paulo”, afirmou o prefeito tucano, que mandou fundar um mastro de 30 metros para abrigar uma bandeira do Brasil.
Essa doação foi feita pelo escritório de advocacia Braga Nascimento e Zilio Advogados Associados, que desembolsou mais de 1 milhão de reais por 31 conjuntos mastro-bandeiras que serão instalados em outros pontos da cidade, como nas marginais Tietê e Pinheiros, além da Avenida Brasil.
Os trabalhos de revitalização no Largo da Batata começaram em julho deste ano e custaram ao todo 415 000 reais, verba bancada por empresas que assinaram termos de doação com a gestão municipal. A maior delas foi do Shopping Iguatemi, que doou 205 000 reais para comprar setenta árvores.
O novo parquinho infantil, composto por casa elevada, escorregador, trepa-trepa, balanços e gira-gira, foi integralmente bancado pela seguradora SulAmérica, que gastou 100 000 reais – foram instalados também novos equipamentos de ginástica e pedrisco no chão da área das crianças.
O local, aliás, foi um dos principais pontos de discussão entre os coletivos que atuam na praça e a administração pública. No fim de agosto, um equipamento de 286 metros quadrados, inaugurado durante a gestão de Fernando Haddad, foi retirado, o que provocou diversas reclamações dos frequentadores. A alegação da atual gestão é que os brinquedos estavam danificados.
Pererecas
Outro motivo de queixa por parte dos coletivos que atuam na área foi a remoção de árvores e canteiros. Segundo a prefeitura, vinte “unidades arbóreas” acabaram removidas por estarem mortas. “Na última quarta (13) a prefeitura destruiu um canteiro nosso e matou entre dez e vinte pererecas. Era notável elas viverem lá, num lugar tão árido. Era um indicativo que nosso jardim estava conseguindo conservar umidade suficiente para sustentar a vida de anfíbios”, afirma a publicitária Mariana Marchesi, do grupo O Largo da Batata Precisa de Você.
Em um vídeo postado no Facebook, o prefeito regional Paulo Mathias negou a destruição do canteiro. Além disso, a ativista ressalta que a terra usada no plantio das árvores é de péssima qualidade. “Já achei entulho, pedras e pedaços de brita. Plantar árvore não é o mesmo que realizar uma obra civil”, diz.
Veja abaixo como estão as instalações após o anúncio da prefeitura.
O que funcionou:
– Iluminação: ao todo, 58 postes foram trocados por unidades mais altas (7,5 metros, contra 5 metros anteriormente) e com lâmpadas mais potentes (150 W antes das obras e 250 W agora). “Realmente isso ficou muito bom. Agora a gente pode até pensar em fechar a banca um pouco mais tarde porque está muito mais claro”, afirma o comerciante Almir de Lima, dono de uma barraca de ferramentas credenciada pela prefeitura.
– Novas árvores: reclamação antiga dos grupos que atuam na região, a aridez do espaço pode ser amenizada com a chegada de setenta árvores em tamanho adulto, que já foram plantadas e serão responsáveis por fazer mais sombra no local. “O problema é que a prefeitura não tem regado as demais árvores, só as novas”, se queixa a ativista Mariana Marchesi, o que foi negado pela gestão Doria.
O que está feio ou não funciona:
– Calçadas: a prefeitura reduziu o tamanho dos canteiros de grama que margeiam as árvores e colocou paralelepípedos em volta. No entanto, partes significativas da calçadas foram danificadas e há muitos buracos deixados na passagem. Além disso, há outras partes com remendos mal feitos. “O que tiver que ser arrumado será consertado”, garante Mathias. “As pessoas andavam sobre as gramas e danificavam a plantação. O chão de paralelepípedo proporciona uma boa permeabilização do solo e se precisar vamos arrumar o que tiver que ser arrumado”.
– Bancos danificados: a prefeitura instalou novos bancos de concreto e de madeira, mas não consertou as várias estruturas que estão quebradas. “Fizemos o que deu para fazer. Os bancos danificados são os modelos antigos, da outra reforma, e não tivemos dinheiro para reformá-los”, afirma o regional de Pinheiros. “É a mesma coisa você ter um sofá rasgado em casa e, em vez de mandar arrumá-lo antes de comprar outro, você coloca o novo ao lado do velho. Deveriam arrumar antes” , diz o ajudante Marcelo de Aguiar, que descansava em uma estrutura sem encosto e com uma das ripas do assento solta.
– “Árvore” para carregar celular: um equipamento com placas de captação de luz solar, que simulam folhas verdes e servem para armazenar energia, estava parcialmente quebrado na segunda-feira (18). Uma das três tomadas com saída USB não funcionava. “Vou mandar olhar e se não voltou a funcionar vamos mandar a empresa que instalou consertar”, diz o prefeito regional de Pinheiros.
– Limpeza: o local próximo à Rua Cardeal Arcoverde possui forte cheiro de urina. “O pessoal faz o que quiser aqui nos muros. E o pior é que a prefeitura só limpa o outro lado da praça. Aqui deste lado nunca vejo água, diz a comerciante Rita Silva, há quase trinta anos no pedaço e uma das remanescentes de um camelódromo que funcionava nas redondezas até a gestão de Gilberto Kassasb. “Entra prefeito, sai prefeito, muitos anunciam o novo Largo da Batata, plantam novas árvores, mas o que vemos são sempre os mesmos problemas, como a falta de banheiros públicos”, diz. Em resposta, a prefeitura diz que a limpeza é semanal. Não há previsão para a instalação de um banheiro no local. Além disso, os 100 000 reais gastos para a instalação de equipamentos voltados às crianças não foram usados no combate aos pombos que já infestavam o antigo espaço. Na segunda-feira (18), centenas de aves pousavam nos brinquedos recém-instalados. “A Vigilância Sanitária está ciente do problema e estamos tentando identificar as pessoas que dão alimentos para os pombos. Esse é um problema antigo”, afirma Paulo Mathias, prefeito regional de Pinheiros.
Em nota, o Shopping Iguatemi diz que foi apenas responsável pela doação das setenta árvores nativas da Mata Atlântica e que não é responsável pela gestão ou obra do Largo da Batata.
Também em nota, a SulAmérica Seguros diz que o acordo de manutenção do espaço prevê limpeza e restauração dos equipamentos doados – além do parquinho a companhia doou equipamentos de ginástica e colocou pedriscos no chão -, sendo o controle dos pombos uma responsabilidade da prefeitura.