Simples, barato e fácil. Se você ouvir a sorridente senhora acima mencionar esses adjetivos, pode se preparar: durante a próxima meia hora, ela tentará convencê-lo de que uma simples demão de tinta branca no telhado é capaz de reduzir as temperaturas em todo o mundo. Chato, hein? Não. O papo potencialmente maçante ganha outros contornos graças ao carisma de Thassanee Wanick, consulesa da Tailândia em São Paulo e ongueira, que não perde uma chance de divulgar o projeto Um Grau a Menos. “É minha grande paixão no momento”, conta. Trata-se de uma campanha da ONG Green Building Council Brasil que consiste em trocar as cores escuras de tetos e playgrounds por tons os mais claros possíveis, o que diminuiria o aquecimento global. “Um telhado branco de 100 metros quadrados compensa a emissão de gás carbônico anual de uma casa”, estima ela, com base em dados do laboratório americano Lawrence Berkeley, ligado à Universidade da Califórnia. Por refletirem a maior parte dos raios solares, tetos com cores claras diminuem a temperatura interna dos edifícios e, assim, fazem com que geladeiras e aparelhos de ar condicionado consumam menos energia. “É o mesmo princípio que faz alguém sentir mais calor com roupa preta do que vestido de branco”, explica o físico José Goldemberg, ex-ministro de Ciência e Tecnologia.
Thassanee (pronuncia-se “téssani”) nasceu numa família tradicional de Bangcoc, a capital tailandesa. Poderia ter recebido um título de duquesa se, em nome do amor, não tivesse contrariado a família: aos 21 anos, casou-se com um estrangeiro. “Meu pai passou oito anos sem falar comigo”, lembra. Foi por causa do marido, o carioca Eduardo Wanick, hoje presidente da multinacional DuPont, que descobriu o Brasil. O casal se conheceu em Londres, onde ela estudou ciências aplicadas antes de encarar dois mestrados nos Estados Unidos. Quando chegou a São Paulo, em 1980, não sabia uma palavra de português, que aprendeu assistindo a desenhos na televisão. Apesar de ter pouco sotaque, às vezes confunde o gênero de algumas palavras e “tloca letlas”, por isso comunica-se bastante em inglês (também fala espanhol e francês). Na década de 90, recebeu do rei Bhumibol Adulyadej o título de consulesa, que não perderá nem mesmo quando tirar do papel o plano de virar cidadã brasileira. Ela e o marido moram num condomínio de luxo nos arredores de São Paulo – a única filha, hoje com 25 anos, vive na Inglaterra. Reciclam lixo e usam produtos ecologicamente corretos, mas não se trata de um imóvel 100% sustentável, apesar de o telhado ter sido o primeiro a ser pintado de branco pela ONG. “A casa que vamos construir em Ilhabela será”, planeja. A cidade do Litoral Norte, aliás, é o reduto para onde migram nos fins de semana. Lá, praticam pesca esportiva, que consiste em devolver o peixe à água após a fisgada.
Ao contrário de muitos ambientalistas, não é vegetariana – mas parou de comer vitela ao saber que se trata da carne de novilho. No campo das excentricidades está a “filha” adotiva, Lychia, uma elefanta de pouco mais de 1 ano de idade que vive na Tailândia. “Quando era bebê, ela comia até 250 quilos de comida por dia”, conta Thassanee, que enviou dinheiro para as primeiras refeições e descolou um lar para o bicho num hotel, onde “trabalha” fazendo gracinhas diante de turistas. Entre as poucas peculiaridades típicas da turma ecologicamente correta está a mochila descolada com que circula. Comprada nos Estados Unidos, tem uma bateria que se recarrega com a luz do sol e serve para alimentar celulares, tocadores de MP3 e laptops. A peça, esportiva, não destoa dos terninhos bem cortados confeccionados em seu país natal. Pelo contrário, faz o maior sucesso.