Um espetáculo ‘juvenil’, apresentado nas matinês de fim de semana do Teatro Popular do Sesi e com entrada gratuita, pode, à primeira vista, assustar o público que procura montagens mais densas. Tempo de Comédia, escrito pelo inglês Alan Ayckbourn, porém, surpreende pela vasta gama de intenções. Basta vencer a resistência diante de uma plateia inquieta, formada sobretudo por adolescentes, e a tarde valerá a pena.
Ayckbourn é um importante dramaturgo, autor da peça que originou o filme ‘Medos Privados em Lugares Públicos’, de Alain Resnais, em cartaz há quase três anos no Belas Artes. Em ‘Tempo de Comédia’, o intimismo cede espaço a uma sátira sobre os bastidores da televisão. A trama se passa em um futuro não distante. Uma novela dirigida por um ex-cineasta (interpretado por Luiz Damasceno) reúne no elenco apenas robôs. Incapazes de manifestar sentimentos, os autômatos não seguram a audiência como faziam os atores de carne e osso do passado. Quando um roteirista (papel de Eduardo Muniz) se interessa por uma das atrizes-androides (Julia Carrera), vêm à tona conflitos de egos e ressentimentos. A crítica à robotização dos artistas é explorada de forma inteligente pela direção de Eliana Fonseca. Alguns estereótipos — entre eles a executiva mercenária e as assistentes lésbicas — ganham um acento cômico para contrastar com o romance da segunda parte. Para a plateia, as risadas estão garantidas, assim como uma ponta de melancolia.
AVALIAÇÃO ✪✪✪