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Tania Bulhões: ela está na mira dos federais

A empresária da decoração vira alvo de uma devassa de agentes fiscais

Por Giuliana Bergamo e João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h32 - Publicado em 18 set 2009, 20h26
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  • Na última quarta-feira (15), como de costume, as “brilhinhos”, funcionárias da loja de decoração Tania Bulhões Home, trabalhavam sem parar. Uniformizadas com vestido preto e touca branca, lustravam talheres, taças e pratos de porcelana no casarão de 3 000 metros quadrados na esquina das ruas Colômbia e Nicarágua, no Jardim América. Em vão. Até a tarde daquele dia, só meia dúzia de pessoas havia passado por ali – movimento pífio considerando que cinquenta clientes circulam por dia pelas escadas rolantes inglesas atrás de almofadas que custam 250 reais ou de lustres avaliados em mais de 130 000 reais. No dia anterior, o endereço, de propriedade da empresária Tania Bulhões, havia sido alvo de uma operação do Ministério Público, da Polícia Federal e da Receita Federal, que envolveu, ao todo, setenta agentes (veja o quadro abaixo). Batizada de Porto Europa, a sindicância começou há um ano e tem como objetivo principal apurar supostas sonegações de impostos entre 2004 e 2006, além dos crimes de evasão de divisas, descaminho, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. “Vamos rastrear todas as operações comerciais realizadas nesses três anos”, afirma Vitor Casimiro, porta-voz da Receita Federal. “Queremos ainda desvendar quem de fato efetua-va as compras. Já sabemos que existiam três empresas de fachada.” Durante a devassa, teriam sido encontrados documentos contábeis guardados até numa caixa de energia elétrica. Da França, onde estava na semana passada com o marido, o empresário gaúcho do ramo de calçados Pedro Grendene, e alguns amigos, Tania disse apenas uma frase a VEJA SÃO PAULO, depois de um longo e profundo suspiro: “Não quero falar sobre isso”.

    Mineira de Uberaba, Tania, 51 anos, atua em São Paulo desde 1989, quando começou a vender peças de decoração num pequeno galpão na Alameda Itu. Tinha acabado de se mudar para a cidade, decidida a ter uma vida independente do primeiro marido, o fazendeiro Virgílio Arthur de Castro Cunha, de quem havia se separado. O negócio cresceu e Tania levou sua butique para a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, onde ficou até 2005, quando abriu a megaloja de 3 000 metros quadrados. Dois anos mais tarde, inaugurou a Tania Bulhões Perfume, que hoje conta com três endereços (na Rua Colômbia, no Shopping Cidade Jardim e em Brasília). Frequentadas por endinheirados do Brasil inteiro, as lojas do grupo faturaram 70 milhões de reais no ano passado. Entre os clientes está o casal Ana Maria e Paulo Velloso, que ficou perplexo com a notícia da operação dos federais. Já no avião, também rumo à França, a socialite protestou: “É um absurdo o que estão fazendo com pessoas de bem e batalhadoras como a Tania. Estamos profundamente chocados”. Em Ube–raba, do apartamento em estilo provençal decorado por Tania, sua mãe, Leila Bulhões, lamentou-se: “Graças a Deus ela não está aqui, assim não vê essa coisa tão ruim que está acontecendo”.

    A mãe da empresária diz ter recebido dezenas de ligações em solidariedade, num processo semelhante ao que sucedeu às prisões de Eliana Tranchesi, dona da Daslu, em julho de 2005 e março último. Entre os condoídos estava a amiga de infância Denise Árabe, decoradora que cuidou da construção da primeira perfumaria. “Ela é uma das pessoas mais corretas e trabalhadoras que conheço”, diz. “E tem uma criatividade brilhante.” Leila lembra que Tania se interessa por trabalhos manuais desde os 3 anos. Na época, a garota foi acometida por uma doença grave que a deixou dois meses na cama, sem poder andar. “Ensinei-a a pintar e bordar roupinhas de boneca. Ela nunca mais parou.” Para aprimorar seus dotes, a mineira teve a ajuda do irmão, Ricardo, morto em 2000. Artista plástico, ele morava em Nova York e ela o visitava com frequência. Lá, Tania rodava lojinhas, galerias, ateliês e fez um curso na School of Design. Viajaram ainda para lugares como França e Marrocos, de onde trouxeram mercadorias para revender. Outro relacionamento crucial para seu sucesso é o casamento com Pedro Grendene. O marido a auxilia na administração do grupo e foi um dos idealizadores da perfumaria. Sua participação nos negócios acabou por afastá-la da irmã, Kátia, com quem inicialmente dividia as questões administrativas. Um dos passatempos prediletos do casal é ir a leilões de gado nelore, muitos deles em Uberaba. Festas e badalações, dizem os amigos, não fazem parte de sua agenda. Ambos são clientes assíduos do restaurante Gero, vizinho do prédio onde moram. “Ela acorda muito cedo e já começa a trabalhar. Raramente é vista à noite”, diz Ana Maria Velloso.

    A julgar pela quantidade e pelo teor dos documentos encontrados, os agentes à frente da Operação Porto Europa avaliam que as investigações incluirão as atividades atuais da empresa. “Não sabemos quanto Tania Bulhões deve aos cofres públicos nem por quantos crimes deve responder até o fim da sindicância”, afirma Vitor Casimiro, da Receita. “No que diz respeito somente ao débito de impostos, se ela fizer o ressarcimento necessário, ficará livre da cadeia.”

    Nas garras do Leão

    8h30

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    foi quanto durou a blitz da Operação Porto Europa da última terça (14), que começou às 6h

    70 agentes

    da Polícia e da Receita Federal cumpriram mandados de busca e apreensão. Eles receberam autorização do juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo

    7 endereços

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    foram vasculhados pelos federais: duas lojas da Rua Colômbia; a residência de Tania e a de uma de suas funcionárias; além de dois escritórios e do ateliê da empresária

    2,1 milhões de reais

    (1,5 milhão em cheques) foram apreendidos durante a ação

    500 000 reais

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    em cheques foram emitidos por um único cliente da loja, morador de São Paulo. Suspeita-se que algumas vendas eram feitas sem nota fiscal

    50 caixas

    de documentos, um carro, três servidores de rede, seis discos rígidos e um número não revelado de pen drives e notebooks foram levados pelos federais

    3 empresas de fachada

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    (duas em Miami e outra no Espírito Santo) atuariam no esquema de sonegação de impostos

    30% do preço real

    de cada produto importado era quanto, em média, a Receita estima que Tania Bulhões declarava pagar. Assim, os custos com impostos caíam sensivelmente

    311 dólares

    teria custado, por exemplo, um castiçal cujo valor declarado à aduana foi de 26 dólares

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