A metrópole despediu-se do último sábado de inverno banhada em um sol escaldante, que elevou os termômetros para 32°C. Três dias antes, os paulistanos precisaram tirar os casacos dos armários, com mínimas que chegaram a 13°C. Quando as pessoas esperavam por um tempo mais ameno com a chegada da primavera, nova surpresa. Na última segunda (23), uma forte chuva provocou um congestionamento recorde do ano, com 151 quilômetros de lentidão pela manhã. Em uma cidade em que as quatro estações se alternam em questão de horas, ganhar a vida tentando prever o que o céu nos reserva parece uma tarefa para lá de ingrata.
Em meio a esse clima difícil, a empresa Climatempo, na Vila Mariana, conseguiu se estabelecer como a maior referência no assunto por aqui. No mês passado, o serviço completou 25 anos de atividade. Seu portal na internet recebe uma média de 1,5 milhão de visitantes únicos por dia. O aplicativo da marca para smartphones e tablets teve mais de 2 milhões de downloads.
O casal responsável pelo negócio veio do Rio de Janeiro. Na década de 80, os meteorologistas Carlos Magno e Ana Lúcia Frony trocaram as praias cariocas pelo trabalho no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que é ligado ao Ministério da Agricultura. Depois de um tempo no local, começaram a pensar em montar um negócio próprio. “Percebemos que aqui haviamuita demanda por esse tipo de informaçãoe os órgãos públicos não davam conta”, recorda Magno.
Com um capital de aproximadamente 10 000 dólares (emprestados da família), a dupla criou em 1988 uma consultoria na garagem do sobrado onde morava, no bairro da Aclimação. Era o embrião da Climatempo.Da ideia inicial de fornecer boletins informativos à imprensa e aos agricultores, logo eles passaram a atuar como “garotos do tempo” da Rádio Eldorado e a prestar serviços personalizados para os mais variados tipos de indústria. Atualmente, empregam cerca de 100 funcionários e esperam fechar 2013 com um faturamento de 17 milhões de reais, 35% superior ao de 2012.
“Trabalhamos para um perfil variado de clientes, que vai da empresa de sorvete que quer saber quando fará calor para aumentar o estoque à produtora de cinema que necessita marcar uma gravação durante um dia ensolarado”, explica Ana Lúcia. De olho nesses vários públicos, a Climatempo tem criado produtos diferenciados, como previsão sob encomenda para noivos que programam a festa de casamento ao ar livre e até um programa de meteorologia na internet, com linguagem mais jovem, apresentado por três garotas do tempo. “Já chegarama me pedir autógrafo na rua”, conta Paula Soares, uma das titulares, ao lado das colegas Lívia Fernanda e Maira Di Giaimo.
Antes da Climatempo, os paulistanos tinham o hábito de colher esse tipo de informação de profissionais como o radialista Narciso Vernizzi. Durante mais de quarenta anos, ele ocupou o posto de “homem do tempo” na Rádio Jovem Pan e marcou época em SãoPaulo. Autodidata, fazia seus prognósticos apurando as condições climáticas com as bases da Força Aérea, além de realizar consultas a agricultores e caiçaras. O comunicador morreu em 2005, aos 86 anos.
Depois de Vernizzi,outra figura conhecida nessa área foi Felisberto Duarte, o Feliz, do telejornal Aqui Agora, do SBT, criador do bordão “piriri, pororó”. Na década de 90, Carlos Magno tambémteve sua porção de “homem do tempo”: apresentou o quadro no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e no Jornal Hoje, na Globo. Na época de Vernizzi,com poucos recursos tecnológicos, as previsões acabavam sendo muito subjetivas e suscetíveis a maior número de erros.
Segundo os especialistas na área, hoje é possível estimar as tendências do que vai ocorrer nas próximas 24 horas com uma taxa de acerto superior a 90%. Isso mesmo em São Paulo, cidade que se encontra em uma área de transição, perto do mar e cercada pela Serra do Mar e pela Serrada Cantareira. Assim, a variação da temperatura acaba sendo frequente. “O mais difícil, no entanto, é a cobrança do paulistano”, revela Magno, que já cansou de ser abordado por pessoas nas ruas querendo saber se iria chover nas próximas horas. Bem-humorado, tem uma resposta pronta para essas ocasiões: “Na dúvida, leve sempre um casaco no carro”