Os caixas eletrônicos sempre estiveram na mira de ladrões. Quando foram implantados na cidade, no início da década de 80, a técnica mais usada por eles era arrancar o equipamento de sua base e arrastá-lo sobre uma carreta. Esse ataque parece pré-histórico quando comparado ao que se tem visto nos últimos meses em todo o estado. Num estágio elevado de ousadia, criminosos passaram a explodir as máquinas com dinamite e bombas caseiras. As invasões a agências bancárias e empresas comerciais se intensificaram desde o mês passado. Ocorreram ao menos quarenta casos de abril até a última quinta-feira, sendo mais da metade deles na capital e na Grande São Paulo. Dá uma média de um assalto por dia no período.
Na semana passada, entre a noite de quarta (11) e a madrugada de quinta (12), aconteceram mais três registros, todos em supermercados. No Jardim Donária, na Zona Oeste, por exemplo, criminosos armados renderam os funcionários enquanto se preparavam para fazer tudo voar pelos ares. Escaparam de lá sem machucar ninguém. Mas já houve situações mais graves. No Grajaú, há um mês, uma criança de 7 anos foi baleada por um fuzil e morreu durante um tiroteio entre o bando e os seguranças de um carro-forte.
Depois das agências bancárias, mercados e postos de gasolina são o alvo mais frequente. Os investigadores acreditam que as quadrilhas envolvidas são as mesmas que assaltavam bancos, já que elas têm perfil parecido e usam armamento pesado. Um dos desafios das autoridades é lidar com criminosos que agem de maneira ágil. Devido aos estouros, alguns ataques duram menos de cinco minutos.
“A hipótese mais provável é que os explosivos foram desviados de pedreiras e construtoras”, afirma o delegado José Carlos Fernandes da Silva, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas. O presidente do Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada (Sindipedras), Tasso Pinheiro, calcula que cerca de 300 quilos desse material desaparecido no ano passado estejam hoje nas mãos de bandidos.
Na tentativa de brecar a escalada de violência, mais viaturas passaram a circular em áreas com uma concentração maior de máquinas de saques, como os corredores bancários. No último sábado, foram presos dois suspeitos de roubar uma agência do Santander, na Água Branca. Uma possível solução para o problema pode vir do departamento de segurança das instituições financeiras. Já faz um ano que alguns caixas eletrônicos de São Paulo têm um dispositivo que, no momento do ataque, dispara um jato de tinta rosa no dinheiro. “O intuito desse recurso é inutilizar as cédulas e permitir que sejam rastreadas”, diz Vanderlei Reis, gerente de segurança corporativa da TecBan, empresa responsável pelo Banco 24 Horas.
O mecanismo tem surtido efeito. Em alguns casos, os assaltantes deixaram para trás o dinheiro marcado. Numa série de países europeus, as notas tingidas perdem o valor fiscal. No Brasil, contudo, não há uma norma para o assunto e elas podem continuar em circulação. “Vamos propor uma regulamentação ao Banco Central”, afirma Wilson Gutierrez, diretor técnico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
A polícia tem aconselhado aos bancos diminuir a quantidade de cédulas nessas máquinas e fazer uma análise mais aprofundada de risco desse tipo de equipamento antes de liberá-lo para os estabelecimentos. Alguns comerciantes tomaram medidas mais radicais. Há duas semanas, a drogaria Farto desativou o caixa eletrônico que mantinha nas unidades de Pompeia e Perdizes. “Os consumidores reclamaram, mas foi uma medida preventiva”, diz o gerente Luiz Rivelino.
Na padaria Paineiras, no Morumbi, a máquina também está com os dias contados. “Estou com medo e quero tirá-la daqui”, afirma o dono, Airton José Silva. “O que era um instrumento de facilitação para o cliente se transformou em pesadelo.”
O ROTEIRO DO CRIME
Cerca de 60% dos casos ocorreram na capital e na Grande São Paulo. Na maioria deles os equipamentos foram detonados dentro de estabelecimentos comerciais.
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