Quem vê a cena de fora estranha: em uma quadra poliesportiva com um circuito oval demarcado por cones ou tinta, meninas de joelheiras e capacetes patinam bem próximas umas às outras. Duas delas saem em disparada e, a partir daí, todas começam a se esbarrar e disputar espaço. Os tombos, cinematográficos e corriqueiros, deixam até os espectadores doloridos. A pancadaria chama-se roller derby. Criado nos Estados Unidos, o esporte sobre rodas é geralmente associado às mulheres (em São Paulo, homem só participa como técnico ou juiz). Existem cerca de setenta praticantes na capital — divididas em duas ligas —, contingente que dobrou desde o ano passado. Trata-se de uma modalidade com regras curiosas. Apenas uma integrante de cada equipe marca pontos — para isso, essa espécie de “artilheira” precisa ultrapassar as adversárias, que tentam bloquear sua passagem.
Não, não tem bola. Esta, aliás, ao lado de “vocês são loucas?”, é a pergunta mais frequente às atletas. “Talvez um pouco”, brinca Juliana Bruzzi, a Beki Band-Aid — cada uma adota um apelido —, enquanto troca os rolamentos dos patins antes de um treino no Círculo Macabi, clube em Higienópolis. Em 2009, quando fundou a Ladies of Hell Town, a primeira liga no Brasil, ela não tinha equipamentos nem colegas. Pela internet, reuniu interessadas e atualmente sua turma conta com mais de trinta jogadoras. Algumas já atuaram no exterior, como Julia Beirão, a Carnage Miranda, que disputou partidas nos Estados Unidos entre 2007 e 2009. No ano passado, de volta ao Brasil, descobriu o time paulistano, recuperou os patins que tinha dado à prima e retornou ao circuito.
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Mais que um esporte, o roller derby é um estilo. Além de investir cerca de 800 reais em equipamentos, treinar até quatro vezes por semana, pagar a mensalidade do aluguel da quadra (entre 50 e 70 reais), é desejável atuar “montada” — de maquiagem, saia e acessórios como meia arrastão. Como contusões são comuns, também é importante contar com um bom plano de saúde. Vem daí a fama de esporte agressivo, que é renegada pelas garotas. “Não acho que seja uma atividade violenta”, defende a veterinária Daniela Aguiar, a V-Doctor. “Meu stress some quando entro na quadra.”
Dissidência da primeira liga, a Gray City Rebels foi criada em dezembro de 2010, tem cerca de trinta sócias e investe no intercâmbio para se aprimorar: traz atletas americanas ao Brasil para ministrar oficinas. A rivalidade é grande entre as facções. “É como São Paulo e Corinthians no futebol”, diz Andréia Carlsson, a Kaia Pilsen, uma das fundadoras da Gray City. Com a diferença de que o clima é tão pouco amistoso que nunca foi possível marcar um confronto entre as duas. A trégua só ocorre quando a seleção brasileira é reunida — oito paulistanas, quatro de cada liga, representam quase metade do grupo.
A primeira experiência do time ocorreu no ano passado, na Copa do Mundo, disputada no Canadá. A equipe terminou em 12º lugar entre treze seleções, à frente apenas da Argentina. Apesar de as garotas terem perdido todos os jogos, o desempenho foi comemorado. “Muitas nunca tinham entrado em uma partida de verdade”, conta Mariana Teixeira, a Peryl Streep. A meta do momento é popularizar a modalidade e, por isso, adesões são bem-vindas. Depois de apresentações de demonstração durante a Virada Esportiva, em junho, uma exposição com fotos da modalidade será inaugurada no próximo dia 27, na Fnac Pinheiros.
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AS REGRAS DO JOGO
História
■ O roller derby foi criado nos anos 30, teve um período de ostracismo e retornou em 2001, nos Estados Unidos. O filme “Garota Fantástica”, de 2009, o popularizou. Há 1.200 ligas no mundo.
Pontuação
■ Uma atleta de cada time é responsável por marcar pontos; para isso, precisa ultrapassar o máximo de adversárias enquanto roda na pista. Cada ultrapassagem representa 1 ponto.
Características
■ Um time tem entre catorze e vinte participantes, mas apenas cinco atuam de cada vez. Existem dois tipos de pista: a flat-track (plana), utilizada por aqui, e a banked-track (inclinada).
GLOSSÁRIO
Bout — É o nome da partida. Tem duração de uma hora, dividida em dois tempos de trinta minutos.
Jams — Rodadas de até dois minutos de duração. Somados, os pontos dos jams determinam o placar final da partida.
LEGENDA
1 – Jammer — A única que marca pontos, cada vez que ultrapassa alguém do time oposto. É identificada por uma estrela no capacete.
2 – Pack – Grupo formado por blockers de ambos os times.
3 – Blockers — São as quatro jogadoras com a função de bloquear a jammer do time adversário e facilitar a passagem da sua jammer.
4 – Pivot — Blocker que lidera o pack, é identificada com uma listra no capacete.
EQUIPAMENTO
LEGENDA
1 – Joelheira
2 – Patins quad speed (com duas rodas na frente e duas atrás)
3 – Munhequeira
4 – Cotoveleira
5 – Protetor de boca
6 – Capacete
ÁREAS DE CONTATO
Só é permitido usar algumas partes do corpo para bloquear (no destaque). Socos, empurrões, chutes e rasteiras, por exemplo, são proibidos.