“Eu conheço o Fer desde a adolescência. Ficamos pela primeira vez em uma festa de Carnaval em 2008, quando morávamos em Valinhos, no interior do estado, e fui pedida em namoro seis meses depois. Em 2016, ele se deparou com vídeos de um casal que viajava o país em uma Kombi e ficamos interessados, mas na época eu já cuidava de quatro gatinhos. Achamos que não seria possível viver essa aventura com animais de estimação. Depois, mais conteúdo sobre viagens começou a aparecer na nossa tela do computador, até surgir um casal mexicano que também vivia em uma Kombi, mas com três gatos.
Nós guardávamos dinheiro há muitos anos planejando comprar um apartamento ou um terreno, porém, durante a pandemia, percebemos que poderíamos acabar não realizando o sonho de viajar o mundo. Usamos nossas economias para comprar um micro-ônibus apenas com dois bancos em julho de 2020 e começamos a construir nosso próprio motorhome seguindo tutoriais na internet, além de consultar o pai do Fer sobre a parte de marcenaria. Registramos o processo no canal do YouTube Construindo Pegadas e nosso dia a dia no Pegadas Itinerantes — Camis e Fer, além do perfil do Instagram @pegadasitinerantes.
Tudo ficou pronto (ou quase pronto, pois a construção dele é constante) neste ano. A nossa realidade foi adaptada em um veículo com espaço de 12 metros quadrados. Como sou tatuadora e amo minha profissão, incluímos um estúdio no projeto e um escritório para o Fer fazer o trabalho dele como generalista 3D, enquanto a criação de conteúdo para as redes sociais não paga todas as contas.
Caímos na estrada em janeiro e nosso primeiro plano é conhecer todos os estados do Brasil. As primeiras paradas foram são Paulo, Paraná e minas Gerais. Depois nosso rumo será o Nordeste. Fazemos trajetos curtos, de uma hora e meia, para não estressar tanto os gatos, além de passear e brincar com eles diariamente. É preciso que eles gastem energia durante o dia para que nos deixem dormir à noite.
Tínhamos começado a viagem com seis felinos, mas no último mês passamos uma situação muito difícil com um deles. Descobrimos um problema renal enquanto estávamos na estrada e paramos em uma clínica desconhecida. Ele não foi muito bem cuidado e faleceu. o objetivo de viver em um motorhome é conhecer lugares novos, e esse lado positivo pode se tornar o negativo ao mesmo tempo, porque há sempre a dificuldade de não conhecer ninguém e não saber onde é seguro.
Apesar de vivermos 24 horas juntos, as brigas são raras. Sempre tivemos um relacionamento respeitoso mesmo sendo completamente diferentes. Sou vegetariana e o Fer não cozinha carne dentro do motorhome em respeito a mim. O segredo é ter paciência e muita conversa. Nada disso daria certo se tivéssemos conflitos com frequência. Se tivermos um bom retorno financeiro para continuar com a aventura, o próximo plano é ir de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, até o Alasca. E com os gatos junto, claro.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 07 de dezembro de 2022, edição nº 2818