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Milimétrico, Roberto Carlos cumpre o rito de Rei

Apresentação no Credicard Hall fez a festa de fãs de todas as idades. Shows de hoje (10) e amanhã (11) estão esgotados

Por Alexandre Mercki
Atualizado em 5 dez 2016, 17h38 - Publicado em 10 nov 2011, 02h52
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  • Quarenta minutos de espera depois, o show começa inebriado pelo aroma das coxinhas à mesa. “Como É Grande o Meu Amor por Você”, instrumental, sem Roberto Carlos no palco, puxa um pot-pourri de sucessos melados do Rei. Os efeitos de luz a cada virada da banda são perfeitos. Estamos em um especial de final de ano da Globo?

    + Roberto Carlos em 10 canções de sucesso

    Um locutor anuncia a estrela da noite no Credicard Hall. Em exatos dois segundos, não há trânsito insuportável do lado de fora nem o peso de um fim de dia de trabalho ou a polêmica da semana. Em exatos dois segundos, existe apenas Roberto Carlos e nada mais.

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    Sua pausa dramática antes de entoar “Emoções” ninguém jamais fará igual no palco. Reúna o time de atores mais tarimbado do país e eles não chegarão nem perto. Roberto é profissional. Cumprimenta a cidade, derrama saudade e faz o seu comercial. São dois patrocinadores citados com elegância ímpar.

    “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo” forma um coro de pulmões cansados na plateia formada majoritariamente por quem o acompanha desde o começo da carreira. Seguem-se “Além do Horizonte” e “Amor Perfeito”, hit que ele jura ser mais conhecido na voz de Claudia Leitte.

    O Rei veste um terno alvo. O Rei é asséptico, não se permite suar. A cada apagar de luzes ao final de um sucesso, bebe um gole de água e seca o rosto. Passa algo nos lábios. O Rei não oscila a voz nem faz questão de ser observado longe do microfone.

    Roberto nunca improvisa. O tom cafajeste e ligeiro de “Cama e Mesa” não destoa do burocrático início de “Detalhes”, sozinho ao violão. Seu “Desabafo” ganha o público de vez. Quem nunca viveu um amor vagabundo? “Quem nunca?”, ele provoca, rindo, antes de contar a história de seu cachorro que certa feita lhe sorriu latindo.

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    O Rei admite que suas histórias são antigas, que em 52 anos de palco já falou repetidamente de tudo e mais um pouco. Diz que sempre parece ser a primeira vez. O Rei mente.

    “O Portão” é a última antes de Roberto se tornar sacro com “Lady Laura” e “Nossa Senhora”. Uma loira de carnes transbordantes em um vestido justíssimo chora, de mãos aos céus. O transe cristão é a chance perfeita para engatar as fracas “Pensamentos” e “Mulher Pequena”.

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    Quando os fãs se derem conta, Roberto terá se tornado profano. Reforça que as melhores coisas da vida são sexo com amor, sexo e sorvete — ou sexo com sorvete, quem coloca a mão no fogo por ele? Conta como decidiu abordar o tema em suas músicas nos anos 70 e, sem sair de cima (do palco), manda “Proposta”, “O Côncavo e o Convexo” e “Cavalgada”, em arranjo orgástico.

    Fruto do êxtase, em catarse, mulheres de todas as idades desafiam os seguranças para se amontoarem ao pé do palco. Sem nem um cigarro sequer. “É Proibido Fumar” abre o pot-pourri de seus hinos da Jovem Guarda. Na virada reservada a gênios, a série termina com o refrão de “Emoções”.

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    Quase duas horas depois, “Como É Grande o Meu Amor por Você”, agora com o vocal de Vossa Majestade, não acalma os gritos histéricos de quem aguarda o momento em que ele se despedirá com rosas após cantar “É Preciso Saber Viver” e “Jesus Cristo”.

    É assim desde que o Rei foi coroado, mas quem se importa? Em tempos tão bicudos, Roberto prova que o amor venceu.

    Os shows de hoje (10) e amanhã (11) no Credicard Hall estão esgotados. Ou seja, o amor acabou. Mas nem tanto: ainda há ingressos para as apresentações do dia 25 e 26 no Ginásio do Ibirapuera.

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