Qualquer promessa de fazer o Rio Pinheiros voltar à vida, não sem motivos, é vista com algum ceticismo pelos paulistanos. Não foram poucas as tentativas — de outras gestões tucanas, por sinal — que só fizeram escoar dinheiro esgoto abaixo. Mas a atual revitalização do manancial, uma das principais apostas políticas do governador João Doria (PSDB), já provocou pelo menos uma pequena mudança: famílias voltaram a usar as margens do “cartão-postal” da cidade para o entretenimento.
Após um banho de loja terminado em dezembro, a ciclovia que acompanha o rio passou a contar com cafés, lanchonetes e um espaço de convivência com tomadas para o celular, reparos gratuitos para as magrelas e vapor d’água para se refrescar. Em paralelo, as obras que — nas promessas de Doria — devolverão a vida ao Pinheiros em abril de 2022 avançaram conforme as metas.
No fim do ano, estavam prontas 120 000 das 532 000 ligações de esgoto previstas no projeto, ou 22,5% do total. A empreitada custará 1,7 bilhão de reais aos cofres públicos. Soma-se a isso uma frota de dezesseis barcaças que limpam os resíduos flutuantes (serão vinte até fevereiro) e dragas que desassorearam 200 000 metros cúbicos de sujeira em 2020. O resultado é que o ar, pasme, parece mais respirável por ali — essa era a impressão quando Vejinha visitou o local. E, assim, deu-se o milagre ecológico: turmas em roupas sociais (não os aficionados de bike, que sempre circularam pela ciclofaixa) retornaram a esse hábitat paulistano.
Nos próximos meses, outro passo importante está no radar. O governo abriu um chamamento público no dia 6 para empresas interessadas em fazer um parque na margem oeste (a da USP), entre as pontes João Dias e Cidade Jardim. A ideia é que as marcas paguem pelas reformas e possam explorar comercialmente os quiosques, além de fazer publicidade. Estão previstos pontos de alimentação, banheiros, pista de caminhada, ciclovia e novos acessos ao transporte público. “Três grupos interessados já vieram conversar conosco”, diz Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente. O parque linear teria 8,2 quilômetros e ficaria pronto até o início do ano que vem.
Na margem pegada ao trem da CPTM, onde as mudanças já acontecem, elas também são resultado da parceria entre o poder público e empresas. O Santander, cuja sede corporativa tem vista para o rio, comprou a principal cota de patrocínio e, entre outras melhorias, montou o novo espaço de convivência. “Neste ano, vamos inaugurar a iluminação noturna, que será doada pela EnelX em troca da exposição da marca”, diz Alexandre Baldy, secretário de Transportes do estado.
Se o plano não desandar, o Pinheiros terá um DBO (Demanda Bioquímica por Oxigênio) abaixo de 30 miligramas por litro (o que já permite vida) em 2022. A média histórica do medidor de poluição é de 70, mas chegava a 100 em alguns trechos. São Paulo não seria Paris, onde a prefeitura investe 1 bilhão de euros (6,5 bilhões de reais) para tornar o Sena “nadável” até a Olimpíada de 2024. Mas, sem dúvida, seria outra São Paulo.
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Publicado em VEJA São Paulo de 13 de janeiro de 2021, edição nº 2720