A reabertura do lendário bar Riviera, prevista para o próximo dia 25, fará ressurgir também um dos símbolos da boemia paulistana, que teve seu auge nos anos 60 e 70. Com o estabelecimento, agora comandado pelo chef Alex Atala e pelo empresário Facundo Guerra, volta também ao centro das atenções o prédio onde está instalado: o Edifício Anchieta, entre a Rua da Consolação e as avenidas Paulista e Angélica.
O edifício foi construído em 1941, sob encomenda do órgão que deu origem ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários, como forma de investimento. “Trata-se de um marco, por ser o primeiro representante do modernismo na Paulista”, afirma a pesquisadora Maria Cristina Wolff, da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
O valor histórico é um dos motivos que levaram até lá pessoas como os arquitetos Rogério Magalhães, de 60 anos, e Rosângela Biasoli, de 56. “Escolhemos viver aqui por sermos fãs das criações dos Irmãos Roberto”, conta ela, sobre o escritório carioca responsável pelo projeto. No 11° andar, há, em vez da cobertura, um terraço de uso coletivo.
Os apartamentos, que têm entre 110 e 115 metros quadrados (vendidos na faixa de 550 000 a 700 000 reais, segundo a subsíndica Keiko Yoshinori), impressionam pelo pé-direito de 3,20 metros. No térreo, a galeria de lojas, que já abrigou açougue e cabeleireiro, está desocupada. A exceção vai ser o próprio Riviera, que mantém parte das características originais, como as paredes com azulejo de vidro. Será uma lembrança revista dos bons tempos da casa, dos quais muita coisa se perdeu.
Nos anos 70, o jardim em frente deu lugar ao túnel e ao acesso à Avenida Doutor Arnaldo. Os elevadores de mogno são revestidos hoje de fórmica e várias pastilhas se descolaram da fachada. Alguns moradores reclamam das poucas vagas de garagem (são 22 para 72 apartamentos, doze deles dúplex), mas há quem não se queixe, como a aposentada Maria Kallas, de 80 anos, que vive ali desde 1977. “O carro não me faz falta, porque dá para ir a pé a restaurantes, ao cinema e à livraria”, afirma. Para os demais, existe a intenção de ampliação do pátio dentro de uma repaginação geral do prédio. “Já temos o plano da reforma, mas ainda precisamos levantar recursos”, diz Yoshinori.
Uma mudança, porém, está pronta, graças à volta do Riviera. O bar revitalizou o terraço — teve a pintura e as obras contra infiltrações finalizadas e a parte elétrica refeita. Em troca, a casa planeja realizar festas no local, que tem uma vista arrebatadora da avenida (emissoras de TV alugaram o espaço, por exemplo, para filmar asmanifestações de junho).
A convivência com o empreendimento, por enquanto, tem sido pacífica. Facundo Guerra fez uma reunião com os condôminos para explicar detalhes, como os gastos com isolamento acústico, que consumiu 40% do investimento no negócio. “Quero incentivar a política da boa vizinhança”, ressalta o empresário.
Para o arquiteto Rogério Magalhães, um dos mais assíduos nas assembleias, o bar vai valorizar o Anchieta, ao dar visibilidade ao outro lado da Avenida Paulista. “Os próprios moradores se animarão a conservar o que temos aqui.”
NA PONTA DA AVENIDA
Como é o prédio
› Ano de construção: 1941
› Autores: o escritório dos Irmãos Roberto, dos arquitetos Milton, Marcelo e Maurício Roberto*
› Número de moradores: 170
› Número de apartamentos: 72
› Área dos imóveis: entre 110 e 115 metros quadrados
› Preços de venda: entre 550 000 e 700 000 reais
› Condomínio: 600 a 670 reais
› IPTU: 2 080 a 2 200 reais
*O terceiro ingressou no trio no ano da inauguração do Anchieta