Desde 2007 longe dos palcos paulistanos, a atriz Renata Sorrah, de 63 anos, volta com uma personagem sob medida para os fãs. Ambiciosa, maquiavélica, no limite entre a loucura e a frieza, ela protagoniza, ao lado do ator Daniel Dantas, ‘Macbeth’, tragédia de William Shakespeare, que estreia no Sesc Pinheiros.
No teatro e na TV, você acumula personagens à beira da loucura. Lady Macbeth é mais uma. Como encara essa coincidência? Não sei explicar por que isso cresceu com o tempo. Pensam em uma louca e me chamam (risos). Mas, acima de tudo, são mulheres fortes, determinadas, que batalham por seus interesses. Curiosidade: o meu autor preferido no teatro é Anton Tchecov e dele eu só fiz figuras extremamente românticas em ‘A Gaivota’ e ‘As Três Irmãs’, dois dos meus melhores espetáculos.
A personagem de um espetáculo complementa o trabalho na novela? No meu caso, é permanente. Quando acabo uma peça e caio na televisão, estou muito mais azeitada. A Nazaré da novela ‘Senhora do Destino’ (2004) é o melhor exemplo. Encerrei ‘Medeia’ no teatro e comecei a gravar imediatamente. Na peça, fazia uma mulher abandonada pelo marido que mata os filhos. Plena dos meus sentidos, peguei a Nazaré, outra mãe alucinada e inegavelmente apaixonada. Se não fosse o teatro, eu não a teria feito do mesmo jeito.
Algum papel ainda lhe assusta? Todos. Minha primeira sensação é de pânico. Eu sempre acho que não vou conseguir realizar. No dia em que não sentir medo, perde a graça de ser atriz. Mas nunca deixo esse medo me paralisar. No caso da Lady Macbeth, eu pensei em quantas atrizes já a fizeram lindamente e me despi de referências. Quis evidenciar a paixão do casal, quanto a mulher ama o marido e faz tudo por ele. E o teatro é assim… Às vezes, minha vida anda sem graça. Então posso ser outra, crio uma nova vida, e isso me põe em movimento.