Em 2012, quando Renata Lo Prete trocou a redação da Folha de S.Paulo pelo estúdio da GloboNews, ela sabia que estava indo para um universo muito distinto, em termos de linguagem e visibilidade. Mas a repercussão do trabalho superou as expectativas. Com seus comentários no Jornal das Dez, sentiu no dia a dia uma mostra da vida como ela é de uma celebridade televisiva. De repente, viu-se parada no meio da rua ou em restaurantes da cidade por pessoas que queriam uma foto ou ouvir sua opinião sobre as últimas de Brasília.
A pergunta “vai ter impeachment ou não vai?” é o hit do momento. Nessas horas, ela não arrisca: “A situação está muito imprevisível, mas o vento sopra contra o governo”. Esse tipo de assédio só aumentou com o sucesso profissional nos últimos anos. Em 2014, Renata passou pela primeira grande prova de fogo nas eleições presidenciais. Chegou a ficar oito horas seguidas no ar, sem perder o timing das perguntas mais oportunas aos entrevistados e a capacidade de fazer uma análise clara e concisa sobre os acontecimentos. “Ela sempre mostrou muita segurança”, elogia Eugenia Moreyra, diretora-geral da GloboNews.
Na cobertura da atual crise política, a comentarista angariou ainda mais espaço e trabalho. No canal fechado, vem sendo acionada nas emergências quando a temperatura do noticiário esquenta — a maquiagem nem sempre consegue esconder as olheiras de cansaço. Ela pode ser ouvida também às sextas no rádio, no Jornal da CBN, e começou a aparecer na TV aberta.
Em novembro de 2015, substituiu, pela primeira vez, William Waack no comando do Jornal da Globo, um dos principais jornalísticos da casa. “Eu me lembro direitinho daquele dia, pois parecia que havia um prédio nas minhas costas”, conta. No mês que vem, Renata deve regressar à bancada da atração noturna, em substituição ao titular, que entrará em férias.
Para aguentar fisicamente a jornada, essa paulistana de 52 anos e 1,72 metro de altura faz aula de pilates e tenta caminhar todos os dias, o que lhe garante a forma longilínea e elegante. “Andar me faz pôr os pensamentos em ordem”, diz. Ela acorda por volta das 7 horas, confere o Twitter, faz a leitura dos jornais, telefona para fontes e vai organizando um diário com os tópicos mais comentados da data.
Geralmente, marca um almoço com gente que possa lhe dar uma informação interessante e segue para o prédio da Globo, no Brooklin, perto das 4 da tarde. Ali, discute com os colegas a agenda e as prioridades. Às 8 da noite, duas horas antes de entrar ao vivo no ar, tira alguns potinhos de sua marmita. “Descobri que não funciono bem se estou com fome”, conta. Nas vasilhas, quase sempre há arroz integral, legumes cozidos e carne. “Farofa é outra coisa que vai bem.”
A superexposição tem seus percalços. Segundo ela, é comum que as pessoas citadas em seus comentários liguem para questionar uma informação ou complementar algo. “Às vezes, isso acontece no meio do programa e, quando possível, procuro incorporar os pontos de vista diversos naquela edição.”
O público acompanha tudo com atenção, inclusive os eventuais tropeços. Recentemente, Renata chamou Dilma Rousseff de ex-presidente por duas vezes. A gafe ganhou rápida repercussão na web. Alguns a chamaram de golpista, outros, de vidente. “Achei engraçado, mas me cobro muito para não errar.”
Sua ascensão na TV também já gerou fofocas internas, de acordo com as quais a jornalista seria bastante agressiva na competição por espaço no trabalho. Antigos colaboradores corroboram essa característica, dizendo que ela não foge de uma briga e não tem medo de disputar território. “Mas não é desleal”, pondera um deles.
Em outubro de 2014, as más-línguas a apontaram como pivô da saída da GloboNews da apresentadora Mariana Godoy (atualmentena Rede TV!). Conforme essa versão, por não se dar bem com Renata, Mariana teria sido substituída na função, hoje exercido por Dony de Nuccio. “Isso é uma bobagem, ela é uma amiga querida”, refuta Renata. Mariana diz que a ex-colega merece cada vez mais espaço no noticiário nacional. “Sinto falta dos nossos cafés à tarde.”
O jeito despachado e a mania de falar com as mãos vêm de sua ascendência italiana. Filha de um funcionário público e de uma ex-secretária, nasceu no bairro de Santana. É a única mulher e a mais velha dos quatro filhos do casal. Formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, trabalhou como repórter de cultura do extinto Jornal da Tarde e depois migrou para a Folha, onde teve rápida ascensão e desempenhoufunções variadas, de correspondente em Nova York a ombudsman.
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Na redação, conheceu o marido, Melchiades Filho, hoje um dos diretores da agência de comunicação FSB. Juntos há 24 anos, eles têm dois filhos: Joaquim, 19, e Antonia, 13. Para homenagear a família, Renata tatuou o corpo. Uma espécie de tribal com a letra J adorna seu ombro direito. No punho esquerdo, mantém a letra A e, no tornozelo esquerdo, uma bola de basquete, esporte do qual é fã, com a inscrição Melk (apelido do esposo).
Em 2005, ganhou o Prêmio Esso, o mais relevante no meio jornalístico, pela entrevista que publicou no jornal com o então deputado Roberto Jefferson na qual ele revelou o esquema do mensalão no governo de Lula. “Foi o ponto mais importante da minha carreira”, lembra. “Até agora”, ela faz questão de acrescentar.