Os primeiros fiscais eletrônicos chegaram à capital na década de 90. Entre os modelos pioneiros, o mais utilizado eram as caixas instaladas em cima de postes com câmeras embutidas capazes de fotografar os apressadinhos. Depois de reveladas, as imagens chegavam pelo correio à casa dos infratores, acompanhadas do boleto de multa. Outras metrópoles brasileiras fizeram o mesmo e, no fim daquela década, registravam-se no país cerca de 500 aparelhos. Hoje, somente a cidade de São Paulo possui quase 600 desses equipamentos. O negócio não evoluiu apenas em quantidade. As engenhocas foram ganhando mais agilidade e precisão no processamento de informações, graças à tecnologia digital. “As peças mais antigas provocavam muita inconsistência de dados e, frequentemente, o trabalho acabava sendo jogado fora”, explica Eduardo Victor dos Santos Pouzada, professor de princípios de comunicações do Instituto Mauá de Tecnologia.
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Nos últimos dias, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) anunciou uma nova geração de espiões de trânsito, a TruCAM. Importadas dos Estados Unidos e vendidas por aqui ao custo unitário de 115.000 reais, essas máquinas em formato de pistola possuem sensores a laser que conseguem flagrar motociclistas trafegando acima da velocidade permitida. Um lote de seis unidades está sendo preparado para entrar em operação nas ruas até outubro. “Os radares convencionais não são capazes de fazer esse trabalho com a mesma qualidade”, afirma Luiz Alberto dos Reis, diretor administrativo da CET. O equipamento deve ser ainda utilizado em blitze nos locais onde são realizados rachas de automóveis.
Outras novidades devem ser incorporadas em breve ao arsenal utilizado pelas autoridades contra os maus condutores. Parte de um contrato de 19 milhões de reais, a empresa Consilux, da cidade de Curitiba, no Paraná, está terminando de implantar por aqui aparelhos que têm a capacidade de flagrar motoristas que avançam o semáforo, param sobre a faixa de pedestres e fazem conversão proibida. Dezoito deles já estão em operação. Até o fim do ano, outros seis serão instalados. O aumento do cerco aos condutores deve provocar um recorde em autuações. Somente de janeiro até julho, segundo os dados oficiais, a CET aplicou 5,6 milhões de multas, 81% da quantidade registrada em 2010, ano em que a arrecadação com as penalizações chegou perto de 530 milhões de reais. Atualmente, cenas com marronzinhos anotando os números das placas em talões são cada vez mais raras. Em 2010, cerca de 60% das infrações foram apontadas eletronicamente. No primeiro semestre deste ano, o índice subiu para 70%.
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De 2008 em diante, a CET multiplicou os investimentos na área. De acordo com o órgão, estão em andamento dez contratos simultâneos para aluguel e manutenção de radares, com seis empresas. No total, são gastos com o sistema quase 3 milhões de reais por mês. O grande argumento para justificar esse esforço são os resultados apresentados em termos de diminuição da violência no trânsito. De 1997 até o ano passado, período em que a quantidade de detectores de irregularidades cresceu exponencialmente, o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito caiu 33%, mesmo com o aumento de 46% da frota de veículos na capital.
Apesar dos indicadores impressionantes de redução da barbárie nas ruas e avenidas graças aos equipamentos, a proliferação dos radares ainda causa certa polêmica na metrópole. Muitos insistem em discutir se isso não estaria a serviço de uma “indústria de multas”, disposta a engordar o caixa da prefeitura à custa dos bolsos de inocentes motoristas. Na visão de todos os especialistas, a ideia não passa de uma bobagem. “Ninguém é punido se não comete erro na condução de seu veículo”, diz o engenheiro Adriano Murgel, consultor na área de transporte público. “Quanto mais radar, melhor para a população”, corrobora Sergio Ejzenberg, mestre em transportes e consultor de órgãos de trânsito. “O ideal é que todas as vias sejam controladas, criando a sensação de que a cidade inteira está sob fiscalização.”
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Uma segunda crítica que se faz com frequência a essa rede é que muitos equipamentos ficam escondidos, em vez de ser colocados em lugares visíveis para cumprir o papel de fiscalização ostensiva. “Sou a favor de salvar vidas, mas acho que deveria ser dado um prazo maior para nos adaptarmos às mudanças constantes dos limites de velocidade das vias, em vez de saírem multando por aí”, reclama o taxista Daniel Borges dos Santos.
Para se prevenirem, ele e muitos outros motoristas usam aparelhos de GPS equipados com o recurso que mostra na tela a localização exata dos equipamentos. “Não há nenhuma regra que torne essa prática ilegal”, afirma Mauricio Januzzi, advogado presidente da comissão de trânsito da OAB-SP. Para tentar acabar com essa discussão, a prefeitura publicou no último dia 23 no site da CET o mapa completo com os pontos onde estão instaladas as máquinas de fiscalização. “A decisão foi tomada em nome da transparência”, diz Reis, diretor administrativo da companhia. “As pessoas precisam ter claro que nada disso foi criado para prejudicá-las.”
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
Características dos radares instalados na cidade para registrar irregularidades
TruCAM ou pistola
Tecnologia: usa um sensor a laser, com câmera acoplada, para medir a velocidade de veículos em até 220 metros. Precisa ser direcionada ao alvo.
Quantidade: 6 (em processo de compra)
Uso: será manuseada pelos marronzinhos em oportunidades pontuais, como em avenidas que sediam rachas. Também será usada para flagrar motociclistas correndo acima do limite.
Estático
Tecnologia: calcula a velocidade de veículos medindo a variação nos intervalos de tempo entre pulsos de luz (laser) emitidos.
Quantidade: 19
Uso: instalado em pontos fixos (em vez de móveis), agora fiscalizará somente motocicletas em locais críticos de acidentes, e não mais automóveis.
Barreira
Tecnologia: usa laços enterrados no pavimento para detectar e medir a velocidade dos veículos, exibindo o resultado em painéis.
Quantidade: 153
Uso: além de utilizadas para coibir excesso de velocidade, pode flagrar o desrespeito ao rodízio. Fica antes de curvas perigosas, em declives ou vias com alto índice de acidentes.
Refis ou Reifex
Tecnologia: único de propriedade da CET (os outros são alugados), fotografa após um sensor indicar a presença do carro em área proibida. Antigo, requer a troca e a revelação do filme fotográfico.
Quantidade: 156
Uso: fiscalização fixa de avanço de semáforo e invasão de corredor exclusivo.
Fixo
Tecnologia: capta a imagem do veículo após acionamento de sensor no solo. A maioria conta com o sistema de Leitura Automática de Placas (LAP), que lê a chapa do carro e cruza a informação com um banco de dados.
Quantidade: 253
Uso: fiscalização de excesso de velocidade, rodízio e inspeção ambiental. Alguns modelos foram adaptados para flagrar o desrespeito à faixa de pedestres.
MAIS RADARES, MAIS MULTAS
Nos últimos anos, o número de flagrantes foi impulsionado pelas novas tecnologias
Fonte: CET