O suspiro final de algumas profissões é um processo permanente, que acontece de modo implacável. Basta olhar com cuidado. Em São Paulo, há uma São Paulo que desaparece em silêncio todos os dias. Figuras que somem sem deixar rastros, atropeladas por novos equipamentos ou pelas mudanças de costumes sociais. “De tempos em tempos, há uma ruptura com o passado”, diz a historiadora Karen Worcman. “Nas últimas duas gerações, porém, o fenômeno ocorreu de forma mais acelerada por força da tecnologia.” Karen é diretora do Museu da Pessoa, na Vila Madalena, que tem mapeado sistematicamente ofícios que estão deixando de existir no Brasil. Não é difícil puxar pela memória alguns que já não fazem sentido na era digital: telegrafista, perfurador de cartões e fotógrafos lambe-lambe, entre outros exemplos.
Há ainda aquelas especialidades que estão no meio do caminho — é possível encontrar seus últimos representantes, mas não os candidatos a assumir o posto no futuro. São os últimos da espécie. Por ironia do destino, muitos deles têm vivido um processo de retomada de interesse em sua área, motivados pela mesma tecnologia que quase os matou. O técnico de fliperama que encontrou um novo público por meio da internet; o caneteiro que recebe encomendas do Brasil inteiro por causa de seu website; o mecanógrafo que se corresponde com colecionadores por e-mail. Em alguns casos, fica clara a angústia de saber que o ofício deve acabar junto com eles próprios. Parece ser um caminho sem volta. E não adianta chamar uma carpideira para lamentar a situação. Aliás, carpideira é das coisas mais difíceis de encontrar nos dias de hoje na cidade.