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Pôquer cai nas graças de paulistanos que curtem adrenalina das apostas

Acompanhamos rodadas de figuras como Vampeta

Por João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 10h19 - Publicado em 30 jul 2010, 16h32
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  • Entra ano, sai ano, surgem na cidade modismos capazes de conquistar adeptos das mais variadas classes e estilos. Reflexos do momento, eles ditam o que algumas pessoas vão vestir, o esporte que vão praticar e as gírias que vão falar.

    No que diz respeito ao comportamento, a forma de diversão em alta entre os paulistanos é o pôquer. Mas não a modalidade tradicional, em que cada jogador recebe cinco cartas individuais, das quais três podem ser trocadas, imortalizada em filmes de Hollywood como ‘A Mesa do Diabo’, lançado em 1965 pelo diretor Norman Jewison, cujo carteado era tema central de um roteiro cheio de galãs valentões e cenários esfumaçados.

    Hoje, grupos de jogadores até meses atrás leigos no universo do carteado se reúnem em suas residências, em condomínios e em clubes especializados para jogar o estilo Texas Hold’em — cada participante ganha duas cartas para combinar com cinco “comunitárias” viradas na mesa.

    Mais do que gostos em comum, o que define os participantes de uma mesma mesa são contas bancárias semelhantes. Isso porque, quando se trata de pôquer, os envolvidos apostam dinheiro — garantia de adrenalina. Dessa forma, nada mais natural do que jogador de futebol sentar à mesa com jogador de futebol, profissional liberal disputar com profissional liberal e assim por diante. Ronaldo Fenômeno, por exemplo, organiza pizzadas seguidas de rodadas de Texas Hold’em em seu apartamento, em Higienópolis, na companhia de William, colega de equipe, e de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, entre outros. De acordo com amigos, o cacife gira em torno de 5 000 reais.

    Vanderlei Luxemburgo, o atual técnico do Atlético Mineiro, joga com empresários em um flat da Vila Nova Conceição e em casas especializadas — com cacifes que, segundo se comenta no meio, podem chegar a 50 000 reais.

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    A maior parte dos amadores, no entanto, participa de disputas (bem) mais modestas. “Nosso objetivo é bater papo e dar risada”, diz a stylist Patricia Kuratti. Ela se reúne com um grupo de amigos, entre advogados e consultores financeiros, todas as terças-feiras em um condomínio do Morumbi. “Jogo por brincadeira, não para ficar rica.” Por arriscar quantias entre 30 e 200 reais por rodada, Patricia imagina gastar menos do que se fosse sair para dançar em uma casa noturna concorrida.

    Segundo Igor Federal, presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), entidade criada em janeiro de 2009, a modalidade virou uma febre. “Jovens, idosos e mulheres se rendem à agilidade desse estilo”, conta ele, com certa dose de exagero.

    Os motivos para o amor ao primeiro “pingo” — a aposta mínima obrigatória para entrar em uma disputa — tiveram um empurrãozinho da televisão. Alguns canais pagos começaram a transmitir torneios mundiais em que microcâmeras permitem visualizar as cartas de cada jogador. “Assim, o telespectador faz parte da mesa”, acredita Federal. “Pode ver quem está com uma mão boa, blefando ou com chances reais de vencer.” De três anos para cá, ESPN, Sony Entertainment Television, Discovery, Fox e Bandsports passaram a exibir atrações sobre o assunto no Brasil.

    Nesse período, o número de casas especializadas saltou de sete para 25 na Grande São Paulo. A H2, localizada no Itaim Bibi, é a mais conhecida delas. Tem entre seus clientes o piloto Felipe Massa e a atriz Angelita Feijó. “Esse mercado deve crescer”, espera Tatiana Ayala, gerente do estabelecimento. “Apenas 10% de nossos clientes são mulheres.”

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    O primeiro canal aberto a apostar suas fichas no tema foi a Rede Bandeirantes. Entre março e junho deste ano, espectadores notívagos puderam acompanhar o ‘Poker das Estrelas’, apresentado à 1 hora de sábado por Otávio Mesquita. A atração chegava a alcançar 2 pontos no ibope. Estuda-se fazer uma segunda temporada ainda neste semestre. O programa era patrocinado pelo site de jogo on-line PokerStars — que tem 36 milhões de usuários cadastrados em todo o mundo e valor de mercado estimado em 9 bilhões de dólares.

    “No Brasil, há mais de 1,6 milhão de jogadores ativos em sites de pôquer”, afirma Juliano Maesano, dono da revista especializada ‘Flop’ e comentarista do programa ‘Full Tilt’, da ESPN. “Esse modismo já criou celebridades dentro do meio, como o paulistano André Akkari, que ganhou mais de 500 000 dólares em competições.”

    Há dois estilos de Texas Hold’em em alta entre os paulistanos: o money game e o torneio. O primeiro deles é mais arriscado e dinâmico. Como a ficha tem valor monetário, a cada rodada uma pessoa ganha (ou perde) determinada quantia — é possível adquirir cacifes variados e deixar a mesa quando se bem entender. Já a segunda opção requer mais paciência. Os interessados compram o mesmo cacife para entrar na disputa e vence quem eliminar os demais companheiros, o que pode levar até 36 horas em casos de profissionais.

    Em abril, a CBTH encomendou um parecer técnico ao jurista Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso. O documento diz: “Pode-se concluir que no pôquer na modalidade Texas Hold’em, seja na forma de torneio, seja na de money game, prevalece a habilidade e não a sorte”. Detalhe: FHC é adepto do estilo tradicional e joga ao lado do historiador Boris Fausto e do sociólogo Leôncio Martins Rodrigues pelo cacife de 500 reais. Outra vitória dos apostadores foi a resolução da Associação Internacional dos Esportes da Mente. Em abril, o pôquer ganhou status de “jogo da mente”, como o xadrez e o bridge. “Nossa reputação está começando a melhorar”, comemora o presidente da CBTH, Igor Federal.

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    Glossário do jogo

    ■ All in: quando o jogador aposta todas as fichas em uma mão.

    ■ Cacife: valor pago para poder entrar no jogo.

    ■ Money game: partida em que as fichas têm valor monetário real. Permite que o jogador entre ou saia da mesa no fim de qualquer rodada.

    ■ Pingo: aposta mínima obrigatória.

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    ■ Re-buy: do inglês, recompra. Alguns jogos permitem que os jogadores comprem, geralmente na primeira hora do jogo, um novo cacife inicial.

    ■ Texas Hold’em: modalidade mais popular do pôquer, em que cada pessoa recebe duas cartas individuais para combinar com outras cinco comunitárias viradas na mesa.

    ■ Torneio: partida em que todos os participantes começam o jogo com o mesmo número de fichas e se sagra campeão aquele que eliminar todos os demais.

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