O policial militar José Marques Madalhano, de 24 anos, que matou com dois tiros o carroceiro Ricardo Silva Nascimento, 39, na região de Pinheiros, vem sendo submetido a uma bateria de entrevistas e exames médicos, inclusive psicológicos. Em 12 de julho, foi afastado das ruas até a conclusão das investigações.
Um primeiro laudo psicológico concluído recentemente a que VEJA SÃO PAULO teve acesso apontou que o soldado não tem problema emocional ou psíquico e está apto para desempenhar qualquer atividade dentro da Polícia Militar. Ao profissional da saúde, ele relatou não ter visto outra opção a não ser agir em legítima defesa atirando contra o homem que estava alterado com um pedaço de pau de 80 cm.
Madalhano foi removido do 23º Batalhão da Polícia Militar, situado dentro do Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste, e transferido para desempenhar funções administrativas. Entre suas atribuições, aparece escrever atas para que uma operação policial possa acontecer. Para uma blitz, por exemplo, ele fica responsável em documentar onde e quando se dará a ação e quais os agentes estarão nela.
O agente é recém-formado pela escola de Araçatuba e estava há poucos meses no 23º Batalhão. Vindo da cidade de Nova Aliança, município de 6 000 habitantes pertencente à microrregião de São José do Rio Preto, a 450 quilômetros da capital, tem o sonho de seguir uma carreira longeva na corporação, assim como seu irmão, que atua em operações aéreas no helicóptero Águia da PM.
Muito abalado com o fato, Madalhano não quis falar com a reportagem. Sem antecedentes que abonem sua carreira, é visto pelos colegas da corporação como um bom funcionário e sempre prestativo.
Além de Madalhano, outros quatro policiais que atuaram na ocorrência também foram afastados das ruas e transferidos para serviços administrativos enquanto o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Corregedoria da Polícia Militar.
MORTE DE TESTEMUNHA
Nesta sexta-feira (28), às 18h, está programada a missa de sétimo dia em memória do morador de rua Gilvan Artur Leal, na Igreja da Paróquia de Monte Serrat, em Pinheiros. Piauí, como era conhecido, foi a principal testemunha da morte de Ricardo Silva Nascimento. Ele faleceu na quinta-feira (20) devido a um acidente vascular cerebral (AVC ) causado por hipertensão.
Ele contou ter sido ameaçado pelos policiais após presenciar o assassinato do amigo catador. “Você será o próximo, você viu tudo”, teriam dito os agentes da Polícia Militar. Em relato publicado no Facebook, a documentarista e moradora de Pinheiros Paula Sacchetta relata o momento em que Piauí viu os disparos contra o carroceiro:
“Depois do primeiro tiro ele começou a gritar para um morador de rua que morava por ali também: ‘Piauí, me ajuda, irmão, me machucaram’. […] O Piauí se aproximou, os policiais pediram pra ele colocar a mão na sarjeta e pisaram nos dedos dele. Ele ficou a noite toda chorando de dor na mão e pela morte do ‘irmão’. […]“, dizia o texto.
Levado ao pronto-socorro da Lapa, Piauí tomou injeção para aliviar a dor e pegou uma caixa de anti-inflamatórios. Com medo de passar a noite na rua, dormiu em um abrigo que aceitasse cachorro, para levar o inseparável Barbicha. Lá, a assistente social recomendou que não fosse à missa de sétimo dia de Nascimento, realizado na Catedral da Sé, por estar muito abalado.
Colaborou Sara Ferrari