Chato, nerd, vesgo e boca-suja, como ele mesmo se define, o paulistano Paulo Cezar Goulart Siqueira, mais conhecido como PC Siqueira, não tem o perfil de uma celebridade comum. No entanto, ele é reconhecido nas ruas e abordado por fãs quando passeia em shoppings no fim de semana. Tem mais seguidores no Twitter (467 000) do que a supermodelo Gisele Bündchen e a apresentadora Luciana Gimenez — juntas. Tudo isso por causa do sucesso do seu vlog (blog em vídeo) Mas Poxa Vida, que desde sua criação, em fevereiro deste ano, já teve cerca de 41 milhões de acessos e está semanalmente entre os vídeos mais vistos por brasileiros no YouTube.
Sentado em frente à câmera, PC faz mordazes crônicas contemporâneas e aborda três prosaicos temas por vídeo, como seu constrangimento num elevador, no trânsito ou numa balada. Provocativo, já leu a “Bíblia” com batatas fritas enfiadas nas narinas. “Sempre fui meio advogado do diabo. Vou lá e toco na ferida. Não para sacanear, mas para incitar discussões”, justifica. Não são só essas brincadeiras que o fazem tão popular. Segundo Gabriela Bianco, coordenadora da agência de mídias sociais Riot, ele faz sucesso justamente por não ser um galã. “É uma figura que poderia trabalhar ou estudar com você. As pessoas se identificam com isso.”
Ilustrador desde os 15 anos, PC afirma não gostar de ser famoso — até evita sair para não encarar os fãs — e demorou para levar a sério a “carreira” de vlogueiro. Após perceber que os vídeos estavam tomando o tempo que antes era dedicado aos desenhos, ele decidiu se aproveitar da ferramenta para fazer dinheiro, vendendo merchandising, postando vídeos promocionais e tweets pagos. Com isso, passou de uma renda que variava de 2 000 a 5 000 reais para uma média de 20 000 reais mensais. Nesse montante, está incluso também o valor que recebe como colaborador da MTV, já que o Mas Poxa Vida é exibido em uma versão editada no programa “Comédia MTV” que vai ao ar às quartas, às 22h30. Sobre a contratação do vlogeiro, Raquel Afonso, gerente de programação da emissora, conta que PC foi relutante: “Na primeira conversa, ele não queria, mas insistimos e refizemos a proposta até termos o seu o.k.”.
O vlog funciona como uma terapia para ele. Vítima de brincadeiras das outras crianças por causa do seu estrabismo, PC foi alfabetizado em casa. Mais tarde, chegou a desenvolver síndrome do pânico. “Falo na web para tentar melhorar as coisas para mim. Eu lido com as minhas frustrações, e muita gente se identifica.” Mas e quando o sucesso passar? “Não é como se eu fosse a Sandy, que está acostumada com atenção”, diz. “Para ela, a realidade é essa. Para mim, só uma fase.”