Dono de uma banca de jornal em frente ao Terminal Rodoviário do Tietê, na Zona Norte, há trinta anos, o jornaleiro Rodolfo Cardoso Tenório, de 62 anos, acostumou-se a atender viajantes em busca de informações sobre itinerários e horários de de ônibus.
Em 2002, no entanto, sua rotina mudou para sempre ao ser procurado por uma garota de 20 e poucos anos, de Brasília, que se aproximou aos prantos. “Ela explicou que tinha vindo à capital para passar o réveillon na casa de uma amiga, mas havia se desencontrado e estava perdida, sem dinheiro”, relembra.
Tenório ligou para a mãe da menina, expôs a situação e organizou uma vaquinha com taxistas e fiscais do terminal para comprar a passagem de volta, que, na época, custava em torno de 200 reais. Desde então, o jornaleiro adotou essa prática como rotina. Com o apoio de funcionários do terminal e até dos próprios motoristas de ônibus, ele já auxiliou dezenas de pessoas a retornar à cidade de origem.
Há três anos, Tenório ganhou um ajudante nessa função: o gari Edivan Francisco, 42, que trabalha nos canteiros da rodoviária e o auxilia a arrecadar fundos para comprar o bilhete a quem não consegue arcar com a viagem.
O caso mais marcante desde que começou a realizar essa tarefa, segundo o jornaleiro, foi o de um pernambucano que tinha ido morar na rua após se separar da esposa. Ao saber da vaquinha, ele implorou ajuda. Tenório e o gari explicaram que a passagem para Pernambuco era muito cara e que seria difícil conseguir arrecadar verba suficiente.
Então, o rapaz sugeriu uma alternativa: comprar uma passagem de ônibus clandestino, que custava metade do preço. Com o dinheiro obtido, ele seguiu até o Brás, de onde saem os transportes informais, comprou o tíquete e voltou para sua terra.
“Três dias depois, ele me ligou para agradecer e até pôs a mãe dele na linha”, conta Tenório. “Ver essas pessoas conseguindo retornar para casa é uma satisfação inexplicável. Dá uma grande sensação de dever cumprido”, conclui ele.
Banca RM. Avenida Cruzeiro do Sul, altura do número 1760.