Na terça (7), o ciclone extratropical que passou pela cidade fez com que muitos paulistanos antecipassem o clima romântico do Dia dos Namorados, celebrado tradicionalmente no dia 12, e experimentassem uma noite à luz de velas. Com a queda de 260 árvores e o rompimento de cabos da AES Eletropaulo, cerca de 2 milhões de pessoas ficaram no escuro. Naquele dia, a concessionária recebeu 1,4 milhão de ligações, volume suficiente para congestionar o sistema de atendimento e deixar muita gente sem conseguir saber quando a situação voltaria ao normal.
Rodrigo Capote/Folhapress
Conserto em Moema: a maioria dos equipamentos é operada manualmente
Passadas 24 horas, ainda era difícil ser atendido, mas a espera pelo acender das lâmpadas foi ainda mais longa: moradores de Saúde, Santo Amaro e Parelheiros, na Zona Sul, Butantã, na Zona Oeste, e de municípios vizinhos como Osasco, Cotia, Barueri e Itapevi só veriam o interruptor funcionar na sexta (10), lentidão que levou a empresa a publicar nos jornais um pedido de desculpas. “Passar sessenta horas sem luz é inaceitável”, afirma Carlos Coscarelli, assessor-chefe do Procon.
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Com a demora no restabelecimento da energia elétrica e a impossibilidade de a AES Eletropaulo atender a tantas (justas) reclamações de uma vez só, o órgão de defesa do consumidor solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) uma intervenção administrativa na concessionária. O governador Geraldo Alckmin criticou publicamente a ineficiência do serviço. “É óbvio que não há condições mínimas de atendimento rápido ao usuário nem de prevenção a problemas como tempestade e vento, que todo mundo sabe que ocorrem”, declarou.
Por incrível que pareça, a maior parte dos fios da empresa é desencapada — se encostarem um no outro, podem provocar curto-circuito. Criar uma rede subterrânea, solução apontada por especialistas como a única capaz de pôr fim à instabilidade, custaria cerca de 100 bilhões de reais. “É caro, mas pode ser feito aos poucos”, diz Anand Hemnani, diretor do banco americano Madison Williams, especializado em infraestrutura. Outro ponto fraco do sistema são os religadores, espécie de disjuntores que protegem a rede de sobrecargas elétricas, como os curtos-circuitos. Mais da metade dos 3.000 equipamentos instalados na área de concessão é operada manualmente. Quando eles desligam, é preciso enviar uma equipe para acioná-los novamente.
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Soares, presidente do Grupo AES Brasil: promessa de investimentos
“Estamos investindo para minimizar o impacto das falhas”, afirma Britaldo Soares, presidente do Grupo AES Brasil, o controlador da empresa. Segundo ele, até o fim do ano que vem os tais religadores serão trocados por peças automáticas. Diz também que estão sendo tomadas providências para melhorar o atendimento telefônico. De acordo com o contrato de concessão, firmado em 1998 e com duração de trinta anos, a AES Eletropaulo tinha até 2007 para agregar 400 megawatts ao volume distribuído. Essa ampliação só ocorrerá em 2016. “As linhas estão sobrecarregadas e qualquer alteração derruba o serviço”, aponta José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
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O secretário estadual de Energia, José Aníbal, reforça as críticas. “A empresa não investe, só fatura”, diz. Não é bem assim. Do lucro líquido de 1,3 bilhão de reais registrado pela companhia no ano passado, foram investidos 682 milhões de reais. Na quarta passada (15), Aníbal foi a Brasília para se reunir com representantes da Aneel e com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Quem sabe a briga entre governo e Eletropaulo jogue alguma luz no futuro da rede elétrica de São Paulo.
AS TRÊS PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES*…
1ª Demora para restabelecer o sistema
Quando chove ou venta forte, a falta de energia em alguns locais chega a durar até sessenta horas
2ª Falta de canais de atendimento
As pessoas não conseguem reclamar nem obter informações pelo 0800 7272196
3ª Indenizações demoradas
Comerciantes e moradores prejudicados pela falta de luz precisam recorrer à Aneel e aguardar decisão
…E AS TRÊS PRINCIPAIS FALHAS DO SISTEMA**
1ª Fiação exposta
Cabos suspensos são vulneráveis aos ventos, aos raios e à queda de galhos e de árvores. Uma estrutura subterrânea poria fim a essas ocorrências
2ª Rede única
Quando um cabo se rompe, nem sempre há outro capaz de alimentar o local atingido. É preciso criar ao menos dois caminhos de condução de energia para cada ponto da cidade
3ª Carência de alternativas
A área urbana utiliza o modelo hidrelétrico. Usinas termelétricas e equipamentos armazenadores poderiam manter a rede funcionando mesmo em caso de falhas