Um amigo apaixonou-se pela internet. Conheceu a musa no Orkut, um site de relacionamentos em que as pessoas trocam mensagens. Não é especificamente amoroso. Viu a foto da garota na página de uma conhecida. Apresentou-se. Pediu para adicioná-la como amiga. Foi aceito. Passaram a se falar todos os dias.
Crônica
Do Orkut pularam para o Messenger. O programa permite a troca de mensagens em tempo real. Ele escrevia, ela respondia, depois era a sua vez de novo, e assim por diante horas a fio. Com uma vantagem: a câmera, que também envia imagens na hora. Ambos se olhavam, sorriam, faziam caretas, brincavam. Trocavam imagens: flores, corações, beijos em animação. Músicas. A intimidade cresceu. Finalmente, ele falou em namoro.
O papo tornou-se sério.
– Temos de nos conhecer pessoalmente. Tomar um chope – ele propôs.
– Adoro chope com batatinha frita! – animou-se ela.
Ficaram de marcar. Ele mora em São Paulo. Ela no Rio de Janeiro.
– Qualquer hora dessas vou aí!
– Estou esperando! – afirmou ela, enviando a imagem de um rostinho sorridente.
Discutiram detalhes.
– Não sei se consigo chegar a seu bairro. É longe!
– Pego um ônibus para a Zona Sul! – a moça garantiu.
Meu amigo quase correu para o aeroporto. Sua única preocupação era logística. Como ela voltaria para casa tarde da noite, no Rio de Janeiro? Ele iria para um hotel, quem sabe se ela…
– Eu dou um jeito, não se preocupe. Se pensa que vai me conhecer, tomar um chope e me levar para o abatedouro, está muito enganado – reagiu ela, com brios. – Quero uma relação séria.
– Sinto um profundo amor por você. Mas tenho um problema! – explicou ele.
– Qual?
– Sou casado.
Disparou a velha conversa. Casamento em crise.
– Não tenho mais nada com a minha mulher. Só estou esperando a hora certa para a separação.
A internauta foi compreensiva.
– Eu espero. Só não quero dividir você com ninguém.
Ele não pôde ir naquele fim de semana. Nem no outro.
– Você prometeu que vinha.
– Estou atolado de trabalho. Vou no próximo. Eu te amo!
Não foi. Ele cria websites. Autônomo, teve de aproveitar as vacas gordas. Ficava no computador on-line. Ela entrava no Messenger. Às vezes ele respondia rapidamente. Outras, nem isso. As mensagens se tornaram mais insistentes.
– Só uma coisa, diga, mas diga sinceramente: você ainda quer alguma coisa comigo? Seja homem e responda.
– Tenho um enorme carinho por você.
– Você não me dá importância. Prometeu chope com fritas já faz quatro meses!
– Logo você vai ter uma surpresa! – respondia ele sem saber o que escrever.
Ela perdeu a paciência:
– Você fica aí com a sua mulher rindo de mim!
– Meu casamento está acabado.
– Você se separou?
– Quase!
As mensagens se tornaram mais insistentes. As cobranças, mais fortes.
– Você é um safado. Fez promessas e não cumpriu.
– Espera aí…
– Gosta de brincar com os sentimentos. É um canalha. Perdi tempo esperando por você!
– A gente nem se conhece ao vivo!
– O fato é que você prometeu e não cumpriu!
Textos cada vez mais árduos de parte a parte. Ele apavorou-se. “Ela vai me perseguir!”
Finalmente, a carioca radicalizou:
– Não quero mais saber de você.
Meu amigo ficou em silêncio. Ela apagou a câmera. Sua imagem sumiu da tela. Ele sofreu. Quis se conectar de novo, reverter a situação. A moça havia bloqueado seu nome. Entrou em depressão.
Namorou, teve um relacionamento, brigou e separou-se sem nunca tê-la conhecido pessoalmente.
O pior é que ainda sente saudade!